terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Depressão de Elias e a Chamada de Eliseu – I Reis 19


Acabe relatou a Jezabel tudo o que Elias havia feito aos profetas de Baal e do poste-ídolo, não para informá-la, mas para despertar a ira dela contra o profeta, porque ele era um homem fraco e não tentaria fazer algo contra Elias em face de tudo o que Deus havia feito através dele, e assim, temia expor-se a um juízo do Senhor, agindo ele próprio, diretamente contra o profeta.
Ele tentou então descarregar o seu ressentimento contra Elias, indispondo Jezabel contra ele.
Nada foi dito por ele acerca da chuva que voltou a cair por causa da oração de Elias, e muito menos diria que a falta de chuvas foi causada pela própria idolatria deles.
Então Jezabel jurou pelos seus deuses que em 24 horas a vida de Elias responderia pelas dos profetas que ele havia matado e enviou um mensageiro para dizer-lhe isto (I Reis 19.2).
O profeta temeu pela sua vida e para salvá-la fugiu para Berseba, no extremo sul de Judá, onde deixou o seu moço (I Reis 19.3), e seguiu sozinho em direção ao deserto onde pediu ao Senhor que o matasse.
O instinto inicial de preservação da sua vida se transformou neste momento da sua fuga numa forte depressão, porque ele se deixou abater agora pelo grande ataque que estava sofrendo da parte dos espíritos do inferno, aos quais ele havia exposto a um grande desprezo e derrota no monte Carmelo, e também pelas suas reflexões acerca das condições espirituais de Israel.
Ele decidiu se aposentar, quando disse: “Basta”, não para descansar neste mundo, mas para sair dele, e assim ele se deitou debaixo de um zimbro e decidiu permanecer ali até que viesse a morrer de inanição, pois havia encomendado a sua alma a Deus.
Mas um anjo o tocou e lhe disse para se levantar e comer.
E Elias viu um pão sobre pedras em brasa e uma botija de água junto à sua cabeceira (I Reis 19.4,5).
Todavia, ele voltou a dormir depois que comeu e bebeu, porque estava decidido de fato a morrer.
E o anjo veio ter com ele novamente e lhe ordenou que comesse e bebesse porque o caminho lhe seria sobremodo longo (v. 7).
Ele se levantou, comeu e bebeu e se dirigiu para o Horebe, caminhando quarenta dias e quarenta noites (v. 8).
Nem com esta longa caminhada o seu estado de espírito foi alterado, e ele continuava debaixo daquela mesma forte depressão que o levava a desejar a sua morte.
Chegando ao Horebe, entrou numa caverna e passou ali a noite, e a palavra do Senhor lhe veio perguntando o que ele fazia naquela caverna.
E ele respondeu que estava sendo zeloso pelo Senhor, porque os israelitas haviam deixado a Sua aliança e derrubaram os seus altares, e mataram os Seus profetas à espada, tendo restado somente ele, a quem eles estavam também procurando matar (v. 9, 10).
A decepção pela ingratidão e maldade deles havia tirado a sua esperança de prosseguir adiante e a razão de continuar vivendo.
Elias não foi para o Horebe para se fortalecer em Deus para lutar contra Jezabel, ao contrário ele queria realmente morrer, mas achava que Israel seria indigno de ter o seu corpo, porque a terra estava contaminada pela idolatria, e assim ele foi buscar refúgio no Horebe, para morrer numa terra santa onde Deus havia aparecido a Moisés na sarça ardente.
Mal sabia que Deus havia preparado para ele a elevada honra de não apenas não ser sepultado na terra contaminada pela idolatria de Israel, e nem sequer no Horebe, mas de não ver o seu corpo a corrupção, porque foi arrebatado ao céu, tal como fora Enoque antes dele.
Quando o anjo disse a Elias em Berseba, que comesse, porque seria longa a sua jornada, não estava se referindo à caminhada de 40 dias e noites que ele empreendeu até ao Horebe, por sua iniciativa, tanto que o Senhor o confrontou lá lhe perguntando o que viera fazer ali, mas estava se referindo ao muito que ele teria ainda que fazer em seu ministério, pois não lhe cabia o direito de decidir parar por sua própria conta, porque não era a honra dele que estava em jogo, mas a do Senhor, pois se Elias se desse por vencido naquela altura, isto daria ocasião para que os adoradores de Baal escarnecessem o nome do Deus de Israel, dizendo que Ele não foi poderoso para preservar o seu profeta em vida livrando-o da ameaça de uma mulher. 
Entretanto, o Senhor vinha preservando a vida de Elias desde que o alimentou com os corvos no ribeiro Querite, e ainda com os anjos que enviou para alimentá-lo em Berseba, e também com a provisão miraculosa de farinha e azeite na casa da viúva de Sarepta.
O Senhor cuida perfeitamente de todo o que se encontrar a Seu serviço.
Elias havia ficado deprimido pelo aparente insucesso de sua missão, por não ter visto um sincero arrependimento em Israel, que se evidenciasse em ser apoiado pelo povo, quando foi ameaçado por Jezabel, mas ele errou nisto, porque não cabe aos ministros do Senhor avaliarem o sucesso da sua missão, pelos resultados visíveis que esperam obter, mas sim, em fazer aquilo que o Senhor lhes tem ordenado, porque os efeitos do nosso trabalho permanecem nas mãos dEle e não nas dos seus servos.
Mas Elias esperava sinceramente que seria reunido a Deus, quando veio ao Horebe, e  esperou que o Senhor o fizesse quando se manifestou a ele.
Quando o Senhor lhe ordenou que saísse da caverna e ficasse na parte externa do monte, ao mesmo tempo ele foi impedido de fazê-lo, porque o Senhor produziu um forte vento que fendia os montes e despedaçava as penhas diante dEle, mas o Senhor não se manifestou a Elias naquele grande e forte vendaval; e depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor também não se manifestou a Elias naquele terremoto (v. 11); e depois do terremoto houve um fogo, e de igual modo Deus não se manifestou no fogo (v. 12), e finalmente reinou um cicio tranquilo e suave, e então Elias se sentiu encorajado a sair da caverna envolvendo o seu rosto no seu manto, e saindo, colocou-se à entrada da caverna (v. 13).
Então ouviu uma voz que lhe perguntou o que ele fazia ali, pela segunda vez (v. 13).
Deus lhe fez a mesma pergunta que lhe havia feito quando ele foi se refugiar na caverna e Elias lhe deu a mesma resposta que havia dado pela primeira vez (v. 10 e 14).
Já que ele havia respondido que era por causa de ser extremamente zeloso pelo Senhor, então este lhe deu ocasião para que continuasse manifestando o referido zelo, pois em vez de lhe dar palavras de consolo, deu-lhe manifestações do Seu grande poder tanto para fender os montes, quanto para produzir uma brisa suave, e assim, não era por falta de poder que Ele não estava trazendo um juízo imediato sobre a infidelidade de Israel, mas por causa da Sua longanimidade e misericórdia, porque tinha em Israel sete mil que não haviam se encurvado a Baal, e velava por estes e por aqueles que ainda viriam a crer nEle, fazendo o trabalho que somente Ele podia fazer e para o qual nem Elias e nem qualquer outro dos Seus servos está em condições de fazer, que é o de salvar uma alma e preservá-la.
Deus revelou a Elias que não estava indiferente à ingratidão e injustiça dos israelitas, e que traria um juízo de morte sobre muitos deles, uma vez que estavam consentindo com Jezabel em relação à sua morte.
Por isso, deveria se retirar do Horebe e se dirigir ao deserto de Damasco, onde ungiria Hazael como o futuro rei da Síria (v. 15), porque ele seria um dos instrumentos da sua vingança contra os israelitas, pois o incitaria à guerra contra eles (v. 17), e que também ungiria para o mesmo propósito a Jeú, rei sobre Israel, que viria a exterminar a casa de Acabe (v. 16, 17), e ainda ungiria a Eliseu como profeta que o sucederia e que seria também o Seu instrumento de juízo sobre a impiedade das nações (v. 16, 17).   
O Senhor revelou também a Elias naquela ocasião, que ele não era o único crente fiel que restara em Israel, porque ainda que nem todos tivessem a coragem dele de se exporem opondo-se ao enfrentamento direto de Jezabel, que até o próprio Elias havia temido, quando ameaçado por ela, contudo permaneciam fiéis a Ele, e como Elias, também não haviam dobrado seus joelhos em adoração a Baal (v. 18).
Isto seria um motivo adicional para renovar a esperança do profeta do fogo e do trovão, e serviria também para lembrá-lo que nem todos os servos de Deus são dotados da mesma têmpera que havia nele.
O mesmo Deus de um Lutero guerreiro é o mesmo Deus de um Calvino de temperamento tranquilo.
Ele usa cada um dos Seus servos, em suas próprias características pessoais, para atender aos Seus elevados propósitos, de modo que um Obadias, como servo na casa de Acabe, é tanto útil a Ele quanto um Elias que enfrentou 850 falsos profetas no Carmelo e os matou.  
Há muitos ensinamentos para nós na chamada de Eliseu.
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I Reis 19.19-21:
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, estando ele com a duodécima; chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre ele.
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta; pois, que te fiz eu?
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .
 Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.
Não foi numa escola de profetas, nem no templo, que Eliseu foi chamado, mas no seu local de trabalho, quando arava o campo com doze juntas de bois, sendo que ele próprio arava com uma destas juntas.
E não tem sido assim o método comum com o qual muitos têm sido chamados pelo Senhor, para deixarem suas atividades seculares, para viverem do evangelho?
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua chamada, pois se diz que arava com doze juntas de bois.
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto, nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus bois e fez uma fogueira para assar a carne com os instrumentos com os quais arava a terra.
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque se desfez dos meios que eram necessários para a realização do seu antigo sustento de vida.
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser um homem importante, que tinha servos, era simples e trabalhador, porque se diz que ele também estava trabalhando no arado, quando podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus empregados.
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste mundo não serão chamadas por Deus para a Sua obra.
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais, não foi uma desculpa para demorar a atender à chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61. Ele somente o fizera por uma questão de respeito e dever para com os seus pais.     
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas lembrou-lhe somente que havia lançado o seu manto sobre ele, como uma indicação de que estava sendo chamado por Deus para ser preparado por ele, Elias, para o ministério, e isto estava representado no fato de que estaria debaixo das vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo de Elias, e era o servo lavava as mãos do profeta como se vê em II Reis 3.11.
Há renúncias impostas para o exercício do ministério
Muitos que são chamados pelo Senhor, especialmente para a obra de missões, vivendo pela fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter da chamada deles.
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual, demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de sangue, quando o Senhor o chamou para o ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até entenderem que as perdas que sofreram em suas vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor para o exercício do ministério.
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo tiveram que deixar para poder segui-lO.
A quantas coisas e pessoas estamos apegados, ainda que não estejamos devidamente conscientizados de tal realidade?
E dificilmente entendemos que muitas perdas que sofremos, e guinadas violentas que são produzidas por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida de modo voluntário, pela consagração de tudo o que somos e do que temos ao Senhor, não será possível trabalhar para Deus, porque o nosso coração estará apegado àquelas coisas e pessoas das quais, o Senhor sabe que devemos nos desprender primeiro (não abandoná-las), para que possamos então fazer a Sua vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a principal ocupação de nossos pensamentos, afeições e desejos.
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando que a autoridade espiritual que estava sobre Elias, seria transferida por Deus, no tempo oportuno, para Eliseu.
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu sucessor. 
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa concedendo-nos dons, capacitações, e Sua autoridade, é para a realização da Sua obra, e não da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a nossa.
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! Adeus parentes! Adeus interesses particulares! Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que fomos chamados para a realização de uma obra específica para Deus.




“1 Ora, Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como matara à espada todos os profetas.
2 Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a de um deles.
3 Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço.
4 Ele, porém, entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.
5 E deitando-se debaixo do zimbro, dormiu; e eis que um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te e come.
6 Ele olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água. Tendo comido e bebido, tornou a deitar-se.
7 O anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-o, e lhe disse: Levanta-te e come, porque demasiado longa te será a viagem.
8 Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força desse alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.
9 Ali entrou numa caverna, onde passou a noite. E eis que lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Que fazes aqui, Elias?
10 Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porque os filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.
11 Ao que Deus lhe disse: Vem cá fora, e põe-te no monte perante o Senhor: E eis que o Senhor passou; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto, porém o Senhor não estava no terremoto;
12 e depois do terremoto um fogo, porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e delicada.
13 E ao ouvi-la, Elias cobriu o rosto com a capa e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. E eis que lhe veio uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?
14 Respondeu ele: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos; porque os filhos de Israel deixaram o teu pacto, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu, somente eu, fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.
15 Então o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; quando lá chegares, ungirás a Hazael para ser rei sobre a Síria.
16 E a Jeú, filho de Ninsi, ungirás para ser rei sobre Israel; bem como a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás para ser profeta em teu lugar.
17 E há de ser que o que escapar da espada de Hazael, matá-lo-á Jeú; e o que escapar da espada de Jeú, matá-lo-á Eliseu.
18 Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.
19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele, estando ele com a duodécima; chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre ele.
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta; pois, que te fiz eu?
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” (I Rs 19.1-21).


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