sábado, 22 de dezembro de 2012

A morte de Miriã e de Arão – Números 20



Do final do capítulo precedente ao início deste 20º de Números, há um intervalo, um silêncio de cerca de 40 anos, correspondentes às peregrinações dos israelitas no deserto, relatadas em Números 33, sendo que o momento histórico e a condição geográfica deste capítulo vigésimo estão registrados em Nm 33.36,37.
Aqui se dá conta que eles haviam chegado ao deserto de Zim, tendo ficado em Cades, onde morreu Miriã.
A narrativa é retomada exatamente, a partir do mesmo local de onde eles tinham há 38 anos atrás partido para espiar a terra de Canaã, e receberam a sentença de terem os seus cadáveres sepultados no deserto, em razão da incredulidade e rebelião contra o Senhor, de não se dispuserem a conquistar a terra prometida (Nm 13.25,26; Dt 1.19-27).
Foi nesta ocasião que ocorreu uma nova contenda por causa da falta de água para o povo beber, e esta foi chamada de águas de Meribá, e como já estudamos em Êxodo 17, esta palavra no hebraico significa provocação, contenda.
Aquela nova geração havia aprendido do mau exemplo de seus pais a também murmurar, e disto nos é dado conta nesta passagem.
Eis o teor das palavras deles proferidas contra Moisés e Arão:
“Oxalá tivéssemos perecido quando pereceram nossos irmãos perante o Senhor! Por que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para que morramos aqui, nós e os nossos animais? E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar? lugar onde não há semente, nem figos, nem vides, nem romãs, nem mesmo água para beber.” (v. 3-5)
A mesma graça miraculosa que o Senhor havia demonstrado a seus pais no princípio, em Refidim, deixando de visitar as suas murmurações com juízos, seria agora também manifestada a estes israelitas da geração que entraria em Canaã, e por isso foi ordenado a Moisés, que lhes desse de beber da água que sairia da rocha.
Entretanto, Moisés não creu no Senhor e disse a eles o seguinte:
“Ouvi agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha para vós?” (v. 10)
Isto lhe custou a proibição de não entrar em Canaã. A ele e a Arão que teve a mesma reação diante do povo.
Isto foi registrado para demonstrar que aquela nova geração de israelitas não era melhor do que a anterior.
O pecado atua na natureza terrena de todos os homens, e é somente por se submeterem à graça de Deus que eles podem se tornar pessoas melhores.  
Mas havia uma pedra espiritual que os seguia como diz Paulo em I Cor 10.4:
”e beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os acompanhava; e a pedra era Cristo.”
A graça de Cristo estava tipificada na água que saiu da rocha para dar de beber aos israelitas e mantê-los em vida.
Moisés e Arão pecaram gravemente quando tentaram impedir que esta graça fosse manifestada ao povo pela vontade de Deus; transmitindo-lhes a falsa ideia de que a graça e a misericórdia do Senhor estão somente disponíveis a quem não esteja debaixo do pecado.
Rebeldes não poderiam, segundo eles, pelo que demonstraram naquela ocasião, serem alvo do favor de Deus e receberem água para terem vida.
Na verdade, Deus dá de graça a água da vida a pecadores, que a desejem e que nEle creiam.
O povo, apesar da sua murmuração inicial, creu que Deus lhes daria água, fendendo a rocha, tanto que se postaram diante dela em obediência ao que Ele havia ordenado a Moisés, mas o próprio Moisés, não creu, naquela ocasião que o Senhor o faria em face da rebeldia que havia sido manifestada por eles.
Assim, foi proferido contra ele e Arão a seguinte sentença:
“Pelo que o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me crestes a mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes dei.” (v. 10)
 Arão morreria não muito depois deste incidente pela vontade do Senhor, para que não entrasse em Canaã:
“Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, porquanto fostes rebeldes contra a minha palavra no tocante às águas de Meribá.” (v. 24)

Moisés viria a interceder junto ao Senhor para que lhe perdoasse e permitisse sua entrada com o povo em Canaã, conforme se lê em Deuteronômio, mas o Senhor não lho permitiu (Dt 3.23.-28)
Há também referências sobre este incidente em Núm 27.12-14 e em Deut 32.48-52.
Somente Deus pode pesar os espíritos e saber o que está nos corações dos homens.
A justa avaliação dos sentimentos daqueles israelitas cabia tão somente ao Senhor, e Moisés falhou em não ter contemplado que havia muito mais de fruto irrefletido dos lábios naquela ocasião, do que uma rebelião profundamente arraigada ao coração, tanto que aquela geração não se negou a lutar em Canaã, como a anterior.
Contudo, independentemente de tudo, tanto ele quanto Arão não havia santificado ao Senhor porque não manifestaram a Sua bondade para com o povo, na condição de líderes e Seus representantes perante Israel.
A graça, a bondade, a misericórdia, a fidelidade de Deus, em cumprir as Suas promessas seria o que daria entrada ao povo na terra, e não propriamente a liderança de Moisés e Arão, e por isso a proibição de entrarem em Canaã deixaria isto ensinado claramente aos israelitas.
Eles teriam que confiar no braço poderoso de Deus para conquistarem a terra prometida, e não no grande líder que era Moisés.
Por mais santos e dignos que sejam os nossos líderes, não é neles que deve repousar a nossa fé, mas exclusivamente em Jesus, autor e consumador da mesma.
A pedra espiritual que seguia Israel em suas jornadas nunca falhou, e lhes deu de beber mesmo quando Moisés não creu no Senhor.                 
Para distinguir que a ocasião desta contenda (Meribá), se referia a uma ocasião diferente da havida em Refidim, relatada em Êxodo, é chamada em Deut 32.51 de Cadesh Meribá, isto é, Meribá de Cades, que era a localidade onde os israelitas se encontravam, prontos para reiniciarem a jornada rumo à conquista de Canaã.
Aqui ficou marcado o contraste entre a condição do pecado que opera permanentemente na carne com a misericórdia eterna de Deus, que é a causa de não sermos consumidos.   
Muitas outras lições podem ser aprendidas deste incidente, como por exemplo, a paciência que os ministros de Cristo devem ter com as ovelhas do Seu rebanho, mesmo quando estas se encontram impacientes e queixosas, em razão das suas provações e tribulações, mas importa prosseguir adiante com o nosso estudo neste livro, em que encontramos numerosas lições para o modo que devemos caminhar com Deus, em nossa jornada rumo à Canaã celestial.    
Tendo rodeado várias vezes o monte de Seir, onde se situava a terra dos edomitas (Dt 2.1-3), Deus ordenou a Moisés que passasse pelos termos de Edom, sem no entanto entrarem em guerra contra eles, porque havia dado a terra de Seir em possessão aos descendentes de Esaú.
Então, Moisés enviou de Cades uma embaixada ao rei de Edom (v. 14) solicitando passagem pela sua terra, prometendo-lhe que não tocariam em nenhuma das propriedades dos edomitas.
Entretanto, recebeu uma resposta negativa e uma ameaça de que caso passasse pela sua terra, eles saíram com espada contra Israel (v. 17, 18).
Os israelitas renovaram o seu pedido dando inclusive garantias que caso bebessem da água que havia em Seir eles pagariam o justo preço por ela.
Mais uma vez receberam não apenas uma resposta negativa como também uma ação militar que consistiu no deslocamento de tropas para protegerem as fronteiras de Edom (v.20).
Esaú havia odiado Jacó por causa da bênção, e agora o ódio estava sendo reavivado quando a bênção estava prestes a ser herdada por Israel.
Os israelitas se desviaram de Edom, conforme o mandado do Senhor, e chegaram a Hor, onde o Ele falou a Moisés e a Arão que este não entraria em Canaã e morreria naquele lugar em razão da contenda de Meribá (v.23,24).
E, ordenou a Moisés que subisse juntamente com Arão e Eleazar, seu filho, ao monte Hor, onde Arão seria despido de suas vestes sacerdotais e Eleazar seria vestido com elas.
Fizeram isto aos olhos de toda a congregação, tendo Arão morrido no cume do monte, tão logo suas vestes sacerdotais foram colocadas em Eleazar.
Arão foi pranteado por Israel durante trinta dias.
Deus havia ordenado que eles subissem o monte Hor para que Arão morresse, e isto à vista de todo o povo, para que ficasse registrado que aquela morte era para uma elevação, para uma promoção, e não para humilhação ou rebaixamento.
Arão seria promovido à glória celestial.
Assim se dá com a morte de todos os santos. Eles são promovidos à glória de Cristo.
A remoção das vestes sacerdotais simbolizava o cumprimento cabal do ministério.
Se este é cumprido segundo a vontade do Senhor já não há porque permanecermos neste mundo.
Assim como se referiu o apóstolo Paulo ao cumprimento do seu próprio ministério:
“Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” (II Tim 4.6-8)
 Moisés viria ainda a escrever o livro de Deuteronômio, no último ano de sua vida, isto é, no quadragésimo ano desde a saída dos israelitas do cativeiro egípcio, e este capítulo nos dá conta que próximo de retomarem o curso das ações para entrarem em Canaã, o Senhor tomou para si, provavelmente no mesmo ano, a Miriã e a Arão, e o próprio Moisés seria também juntado a eles, não muito tempo depois, pois Miriã morreu no primeiro mês, e Arão no quinto mês daquele ano, e Moisés depois do décimo mês, como veremos adiante.
O menino que havia sido livrado da morte e colocado num cesto de junco, e que foi assistido pela sua corajosa irmã, e auxiliado por ela e por seu doce irmão durante todo o tempo do seu ministério, haveria de se juntar na Canaã celestial a eles, entrando no gozo e na glória do Seu Senhor, depois de terem cumprido com toda a fidelidade o ministério que Deus lhes havia designado.  



“1 Os filhos de Israel, a congregação toda, chegaram ao deserto de Zim no primeiro mês, e o povo ficou em Cades. Ali morreu Miriã, e ali foi sepultada.
2 Ora, não havia água para a congregação; pelo que se ajuntaram contra Moisés e Arão.
3 E o povo contendeu com Moisés, dizendo: Oxalá tivéssemos perecido quando pereceram nossos irmãos perante o Senhor!
4 Por que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para que morramos aqui, nós e os nossos animais?
5 E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar? lugar onde não há semente, nem figos, nem vides, nem romãs, nem mesmo água para beber.
6 Então Moisés e Arão se foram da presença da assembleia até a porta da tenda da revelação, e se lançaram com o rosto em terra; e a glória do Senhor lhes apareceu.
7 E o Senhor disse a Moisés:
8 Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os seus olhos, que ela dê as suas águas. Assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber à congregação e aos seus animais.
9 Moisés, pois, tomou a vara de diante do senhor, como este lhe ordenou.
10 Moisés e Arão reuniram a assembleia diante da rocha, e Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha para vós?
11 Então Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu água copiosamente, e a congregação bebeu, e os seus animais.
12 Pelo que o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me crestes a mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes dei.
13 Estas são as águas de Meribá, porque ali os filhos de Israel contenderam com o Senhor, que neles se santificou.
14 De Cades, Moisés enviou mensageiros ao rei de Edom, dizendo: Assim diz teu irmão Israel: Tu sabes todo o trabalho que nos tem sobrevindo;
15 como nossos pais desceram ao Egito, e nós no Egito habitamos muito tempo; e como os egípcios nos maltrataram, a nós e a nossos pais;
16 e quando clamamos ao Senhor, ele ouviu a nossa voz, e mandou um anjo, e nos tirou do Egito; e eis que estamos em Cades, cidade na extremidade dos teus termos.
17 Deixa-nos, pois, passar pela tua terra; não passaremos pelos campos, nem pelas vinhas, nem beberemos a água dos poços; iremos pela estrada real, não nos desviando para a direita nem para a esquerda, até que tenhamos passado os teus termos.
18 Respondeu-lhe Edom: Não passaras por mim, para que eu não saia com a espada ao teu encontro.
19 Os filhos de Israel lhe replicaram: Subiremos pela estrada real; e se bebermos das tuas águas, eu e o meu gado, darei o preço delas; sob condição de eu nada mais fazer, deixa-me somente passar a pé.
20 Edom, porém, respondeu: Não passarás. E saiu-lhe ao encontro com muita gente e com mão forte.
21 Assim recusou Edom deixar Israel passar pelos seus termos; pelo que Israel se desviou dele.
22 Então partiram de Cades; e os filhos de Israel, a congregação toda, chegaram ao monte Hor.
23 E falou o Senhor a Moisés e a Arão no monte Hor, nos termos da terra de Edom, dizendo:
24 Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, porquanto fostes rebeldes contra a minha palavra no tocante às águas de Meribá.
25 Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte Hor;
26 e despe a Arão as suas vestes, e as veste a Eleazar, seu filho, porque Arão será recolhido, e morrerá ali.
27 Fez, pois, Moisés como o Senhor lhe ordenara; e subiram ao monte Hor perante os olhos de toda a congregação.
28 Moisés despiu a Arão as vestes, e as vestiu a Eleazar, seu filho; e morreu Arão ali sobre o cume do monte; e Moisés e Eleazar desceram do monte.
29 Vendo, pois, toda a congregação que Arão era morto, chorou-o toda a casa de Israel por trinta dias.” (Nm 20.1-29).


Nenhum comentário:

Postar um comentário