quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Cântico Profético Relativo à Apostasia – Deuteronômio 32


O cântico que protestaria contra a infidelidade e apostasia dos israelitas, conforme prenunciado por Deus no capítulo anterior, está registrado nos versos 1 a 43 deste 32º capítulo de Deuteronômio.
Neste cântico Deus registra a vingança da Sua ira contra aqueles que se mantêm deliberadamente na prática do pecado.
São ameaças terríveis que os israelitas teriam sempre diante de si, toda vez que o cantassem, e se lembrariam do caráter justo e de reto juiz, do Senhor.
Ele é perdoador e compassivo, mas não inocenta o culpado, e por isso todos responderão perante Ele por suas ações e omissões.
“Porque é necessário que todos sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.” (II Cor 5.10).      
Este cântico é uma doutrina, isto é, um ensino, como se declara no verso 2, na parte introdutória do cântico, e se deseja que as palavras deste ensino sejam como a chuva, mas não a chuva torrencial, senão a que destila como orvalho, como chuvisco sobre a erva e chuvas sobre a relva.
É o nome do Senhor que seria proclamado para que fosse engrandecido pelo Seu povo (v. 3).
Isto deve penetrar como a chuva fina, que amolece a terra e que a deixa impregnada de umidade, e não como a chuva forte que escoa rapidamente pela superfície.
A Palavra de Deus deve ser meditada, como que ruminada, de modo que possa penetrar profundamente no coração e ali fazer o seu trabalho e amolecer a sequidão e dureza de espírito, de modo que se disponha a se submeter ao que é procedente do Senhor, e seja habilitado a praticá-lo.
Quantos mandamentos Israel não deveria cumprir!
Quanta comunhão era exigida para terem com o seu Deus!
E como eles poderiam fazê-lo a não ser por um trabalho de encherem suas mentes, corações e almas com a doutrina da Palavra do Senhor? 
É por isso que muitos dos salmos de Davi são intitulados Masquil, isto é, para dar instrução.
Esta doutrina que cai do céu como chuva tem o propósito de preparar a terra do coração para dar frutos para Deus.
“Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Is 55.10,11).
A primeira coisa que se declara é que a honra de Deus seria preservada.
O Senhor vindicaria a santidade do Seu nome visitando com juízos a apostasia do Seu povo.
Ninguém poderá falar contra a justiça de Deus, por ser parcial com o Seu povo, pois Ele corrigirá os pecados deles com total imparcialidade, de modo que seja testemunhada a Sua justiça e santidade a todos os viventes, tanto os do céu quanto os da terra.  
Aqueles que são chamados pelo nome do Senhor devem santificar o Seu nome.
Quando eles não o fazem, Deus vindicará a Sua santidade neles, revelando pelos Seus juízos que Ele nada tem a ver com os pecados que eles praticam. 
“Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atento à sua súplica; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal.” (I Pe 3.12).
É isto que diz o apóstolo, em resumo, no que consiste o teor do cântico.
Deus julga com imparcialidade e não deixará de dar a devida paga aos que praticam males. 
O caráter imutável de Deus é designado por cinco vezes neste 32º capítulo de Deuteronômio, como sendo Ele a Rocha (v. 4, 15, 18, 30, 31). Não uma Rocha fria, insensível, implacável, impiedosa, mas uma Rocha viva, santa, amável, justa, inabalável, imutável.
O cântico demonstra isto, pois não é uma ameaça tirânica, senão um lamento de quem vê se estragar aquilo que era de tanta estima.
Israel foi escolhido para ser adotado como filho de Deus (v. 6 a 9).
As palavras do cântico prosseguem dizendo que o Senhor cercou Israel de proteção e cuidou dele guardando-o como a menina do seu olho (v. 10), e os conduziu como a águia carrega os seus pintainhos sobre as suas asas (v. 11), e os fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo e lhes deu o melhor da terra (v. 13,14), e assim eram guiados pelo Senhor porque não havia com eles deuses estranhos (v. 12).
Este cântico não é o lamento do coração de um pai por um filho perdido, que se extraviou em seus caminhos?
Não é um lamento pela perda de um bem precioso?
Quanto dói no coração de Deus ver Seus filhos apostatarem da Sua presença!
Isto não pode ser considerado de forma fria, técnica, meramente em afirmações teológicas, que não levem em conta esta grande realidade do que sente a pessoa de Deus pelos nossos descaminhos.
Não podemos dizer simplesmente que aquele que apostata da fé será firmado na perseverança caso seja um verdadeiro eleito de Deus, como se estivéssemos falando de coisas inanimadas.
Há dores e perdas envolvidas nesta questão.
Não há nenhum agrado em Deus em ter que corrigir os Seus filhos que se desviam.
Não há nenhum prazer nEle em ver Seus filhos se desviando dos Seus caminhos.
O Espírito Santo se entristece em nós quando nos desviamos, revelando a profunda tristeza que há no coração do Senhor.
Ele nos corrigirá, é certo, porque é um Pai perfeito que não deixa de corrigir os filhos que ama.
Mas isto dói muito mais nEle do que em nós. Podemos estar certos disto, porque se diz:
 “Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu amor, e na sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os carregou todos os dias da antiguidade.” (Is 63.9).         
Deus é a Rocha porque Ele é o fundamento da vida eterna.
Fora dEle não há vida espiritual eterna.
A própria humanidade somente pode ser vivida se estiver fundamentada nEle que é a Rocha, porque o homem foi criado à Sua imagem e semelhança.
Como haverá acordo e harmonia então quando o homem caminha em sentido contrário ao que foi estabelecido por Deus? 
Deus é a Rocha sobre a qual devemos edificar as nossas vidas.
A Sua Palavra é a verdade e podemos confiar inteiramente nas Suas promessas, porque Ele não pode mentir e é fiel em cumprir tudo o que tem prometido.
Ele nunca enganou qualquer pessoa que nEle confiou, e nunca prejudicou a qualquer um com injustiça, e nem foi duro com qualquer pessoa que clamou pela Sua misericórdia.
Deus não entregou o Seu povo à corrupção, mas eles se corromperam pela própria maldade deles, apesar de terem sido chamados tantas vezes ao arrependimento.
O caráter de Deus permanecia imutável como a Rocha, mas o deles era totalmente contrário ao caráter de Deus. Eles seriam os autores do seu próprio pecado e ruína.
As palavras deste cântico lhes ensinava claramente isto, usando estas expressões:
“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, e isso é a sua mancha; geração perversa e depravada é. É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e insensato?” (v. 5, 6).
“e disse: Esconderei deles o meu rosto, verei qual será o seu fim, porque geração perversa são eles, filhos em quem não há fidelidade.” (v. 20).
“Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento.” (v. 28).
É dito deles que não são filhos de Deus, mas manchas.
É preciso considerar que os cristãos verdadeiros são filhos de Deus apesar de ainda carregarem neste mundo as manchas do pecado.
Mas o pecado de Israel não era como o dos cristãos da Igreja de Cristo.
Não era uma fraqueza contra a qual eles se esforçavam, vigiavam e oravam contra ela, mas um mal que estava completamente fixado nos corações deles.
Eles eram guiados por um espírito de contradição e faziam o que era proibido porque foi proibido, e fariam o que era da própria imaginação deles em oposição à vontade de Deus.
Por isso se diz que não eram filhos, mas uma mancha, um borrão. Pois o que se podia ver do caráter de Deus neles? 
O cântico seria assim um lamento mas também uma forma de adverti-los quanto à real predisposição da natureza deles.
Se eles desejassem prevalecer com Deus e com os homens, eles teriam que se voltar para Ele e aprenderem e guardarem os Seus mandamentos.
O Novo Testamento também não esconde dos cristãos a realidade sobre a fraqueza da sua natureza terrena, que eles têm o dever de mortificar para serem revestidos das virtudes de Cristo.  
À vista do cuidado amoroso de Deus todos os pecadores rebeldes, especialmente os de Israel, são as pessoas menos inteligentes e mais ingratas do mundo.
Por isso se diz: “povo louco e ignorante”, porque não conseguem ver a bondade e as perfeições do Criador, e a disponibilidade de graça que há nEle para os que O temem e O amam, para serem transformados à imagem de Cristo.    
Nos versos 15 a 18 é destacado o fato de que foi pelo aumento da própria prosperidade que Israel veio a apostatar de Deus.
Deus envia a prosperidade para o Seu povo, mas é preciso permanecer em humildade perante Ele, para que o nosso coração não seja enlaçado pelo orgulho, pelo prazer sensual, pela insolência e por outros abusos comuns à abundância e prosperidade.
A palavra hebraica Jesurum (v. 15), nome simbólico aplicado a Israel, significa próspero, reto. Assim, Israel não se desviaria por causa da penúria, mas na sua própria prosperidade.
Eles se desviariam em seus apetites carnais e no seu amor ao mundo e àquilo que no mundo está esquecendo-se da sua vocação e compromisso com Deus.
A bênção da prosperidade pode se transformar numa armadilha para a apostasia se não guardarmos o coração em fidelidade à vontade do Senhor.
Isto é também um perigo para os cristãos da Igreja de Cristo, e daí não serem poucas as exortações que encontramos também no Novo Testamento contra o amor ao mundo e ao dinheiro, que pode facilmente ocupar o lugar que é devido ao amor a Deus e à Sua Palavra.         
O dinheiro pode se transformar facilmente numa espécie de falso deus, e vir a ser objeto de idolatria. E, não somente o dinheiro, como tudo aquilo que ele pode comprar.
A partir do verso 19 até o final do cântico no 43 são pronunciados os juízos que o Senhor traria sobre os Seus inimigos.
Foi baseado no versículo 35 que Jonathan Edwards elaborou o seu sermão textual que veio a ser intitulado “Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado.“
Deus revela claramente nesta porção das Escrituras que não se deixará escarnecer pelos tolos incrédulos que não dão a devida atenção às Suas advertências. Muito ao contrário, será Ele quem os desprezará e esconderá deles o Seu rosto (v. 19, 20).
Um juízo terrível é pronunciado sobre aqueles que desprezarem o Senhor nos versos 22 a 25.
Se é isto o que é dito aos ímpios de Israel, da nação que Ele elegeu, o que devem esperar os ímpios das nações pagãs?
Há um fogo que é aceso pela ira do Senhor e que arde até o mais profundo do inferno (v. 22). Um fogo consumidor do pecado e que se acende contra o pecado.
É por porções como esta da Palavra de Deus que chegamos a conhecer o quanto Ele abomina o pecado, e é somente assim que podemos chegar a ter um verdadeiro temor e tremor quanto ao nosso modo de caminhar na Sua presença.
É por isso que se ordena que se medite na Palavra de Deus em todo o tempo, e que se aprenda tudo o que convém ser aprendido, não se omitindo nem se alterando o que ela contém.  
A promessa de misericórdia constante do capítulo precedente (31) não deveria ser entendida então como um indulto para a prática do pecado.
A reconciliação de eventuais apostasias deve ser portanto vista como exceção e não como regra.
Não é algo de que devemos dispor segundo a nossa própria deliberação e vontade, senão algo que deve ser evitado a todo o custo, sabendo nós o quanto Deus detesta o pecado e a apostasia.
Para que não tivéssemos dúvidas quanto a isto, foi ordenado a Moisés que ensinasse ao Seu povo as palavras deste cântico contido nos versos 1 a 43 deste capítulo.    
A partir do verso 26 Deus revela claramente que faz distinção entre aqueles que o servem e aqueles que não o servem. Como no dizer de Pedro, Ele sabe livrar da provação os piedosos e reservar sob castigo os injustos para o dia do juízo (II Pe 2.9).
O verdadeiro Israel seria vindicado por Deus contra os ímpios que lhes haviam oprimido (v. 36, 43). O justo não será desamparado e esquecido pelo Deus Justo e Santo.
Ainda que ele padeça por causa dos pecados dos ímpios, por viver num mundo sujeito ao pecado, Deus lhe fará justiça por perseverar em segui-Lo e guardar os Seus mandamentos.
Deus o fará sempre porque o tem prometido, e isto está em conformidade com o Seu caráter justo.
Ele tomará vingança contra os inimigos do verdadeiro Israel, que é composto pelas pessoas que o temem e amam.
Por isso os cristãos não devem vingar a si mesmos, mas dar lugar à ira de Deus que se manifestará no momento próprio, em juízo, para julgar a causa deles com justiça.
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Os cristãos são exortados a não apenas deixarem todo juízo nas mãos de Deus, como a amarem os seus inimigos, não porque eles o mereçam, mas por causa da sua consciência para com Deus, e por reconhecerem que somente Deus pode julgar com perfeita justiça.   
Nações pagãs seriam o instrumento de Deus para castigar o pecado de Israel, e estas nações viriam a se elevar contra o próprio Deus por infamarem o Seu nome e desonrá-lo pelo que viriam a fazer ao povo que levava o Seu próprio nome.
Mas Ele não deixaria o pecado deles sem o devido castigo, e lhes daria o pago diretamente das Suas mãos.
Havendo tal Juiz sobre toda a terra, que tudo vê, e retribui a cada um conforme as suas próprias obras, não seria sábio considerar em todo o tempo o temor e tremor com que devemos andar em Sua presença?
Deus é longânimo e dá tempo à grande maioria dos pecadores para que se arrependam e se convertam dos seus pecados. Mas o juízo já está determinado, o fogo do inferno já está aceso de há muito, e a execução da condenação se apressa, e somente está em Deus submeter os seus inimigos à execução do juízo.
A rebelião contra a fé em Cristo será vingada no devido tempo, no momento oportuno. O que aparenta agora estar de pé virá a cair para nunca mais se levantar (v. 35).
Deus julgará o seu povo (v. 36; Hb 10.30), isto é, julgará a causa do seu povo contra os seus inimigos. Como se vê no clamor dos cristãos em Apo 6.9,10:
“Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”
Quando as coisas parecem não ter mais remédio, é quando Deus entra em cena para libertar o seu povo. Ele permite que assim seja para provar a nossa fé e nos mover à oração, de modo que vejamos que Ele encherá a face dos seus inimigos de vergonha e os corações dos seus servos com uma maior alegria por salvá-los como quem livra alguém do fogo.      
“E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles?” (Lc 18.7). 
Mas aqueles que se voltam para os falsos deuses ficarão sem ajuda porque eles não poderão ajudá-los no dia da sua calamidade. Quem se levantará para tentar impedir o juízo de Deus contra aqueles que o abandonam para adorarem outros deuses?
“Então dirá: Onde estão os seus deuses, a rocha em que se refugiavam, os que comiam a gordura dos sacrifícios deles e bebiam o vinho das suas ofertas de libação? Levantem-se eles, e vos ajudem, a fim de que haja agora refúgio para vós. Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar da minha mão.” (v. 37 a 39).
É nas mãos de Deus que está o poder sobre a vida e sobre a morte. Nem mesmo demônios que atuam por detrás da falsa adoração podem matar a quem quer que seja se não for permitido por Deus, a quem pertence o poder sobre a vida e a morte.
 “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.” (Mt 28.18).
“Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do inferno.” (Apo 1.18).
O Senhor tenta trazer aos israelitas este entendimento que somente Ele é Deus, de modo que eles não viessem a temer e servir outros deuses para a própria ruína deles. 
No verso 44 é descrita a entrega solene do cântico a todos os israelitas, por Moisés e Josué, que o sucederia.
Eles são alertados quanto ao teor daquelas palavras bem como de toda a Lei, que não deveriam ser reputadas como coisa vã, pois em atentar para elas e obedecê-las estava a própria vida deles (v. 45).
A desobediência de Moisés e Arão nas águas de Meribá não lhes furtou o céu que eles haviam alcançado pela graça, mediante a fé.
Arão já havia sido convocado à eternidade, e agora seria a vez de Moisés, pois lhe foi ordenado tão logo depois que pronunciou as palavras deste cântico, que subisse o monte de Abarim (Nebo), que ficava nas terras de Moabe, onde ele morreria (v. 48-52).  





“1 Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca.
2 Caia como a chuva a minha doutrina; destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como chuvas sobre a relva.
3 Porque proclamarei o nome do Senhor; engrandecei o nosso Deus.
4 Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniquidade; justo e reto é ele.
5 Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, e isso é a sua mancha; geração perversa e depravada é.
6 É assim que recompensas ao Senhor, povo louco e insensato? não é ele teu pai, que te adquiriu, que te fez e te estabeleceu?
7 Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos, geração por geração; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles to dirão.
8 Quando o Altíssimo dava às nações a sua herança, quando separava os filhos dos homens, estabeleceu os termos dos povos conforme o número dos filhos de Israel.
9 Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança.
10 Achou-o numa terra deserta, e num erma de solidão e horrendos uivos; cercou-o de proteção; cuidou dele, guardando-o como a menina do seu olho.
11 Como a águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas,
12 assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho.
13 Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo; também o fez chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira,
14 coalhada das vacas e leite das ovelhas, com a gordura dos cordeiros, dos carneiros de Basã, e dos bodes, com o mais fino trigo; e por vinho bebeste o sangue das uvas.
15 E Jesurum, engordando, recalcitrou (tu engordaste, tu te engrossaste e te cevaste); então abandonou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.
16 Com deuses estranhos o moveram a zelos; com abominações o provocaram à ira:
17 Ofereceram sacrifícios aos demônios, não a Deus, a deuses que não haviam conhecido, deuses novos que apareceram há pouco, aos quais os vossos pais não temeram.
18 Olvidaste a Rocha que te gerou, e te esqueceste do Deus que te formou.
19 Vendo isto, o Senhor os desprezou, por causa da provocação que lhe fizeram seus filhos e suas filhas;
20 e disse: Esconderei deles o meu rosto, verei qual será o seu fim, porque geração perversa são eles, filhos em quem não há fidelidade.
21 A zelos me provocaram cem aquilo que não é Deus, com as suas vaidades me provocaram à ira; portanto eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo, com uma nação insensata os despertarei à ira.
22 Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arde até o mais profundo do Seol, e devora a terra com o seu fruto, e abrasa os fundamentos dos montes.
23 Males amontoarei sobre eles, esgotarei contra eles as minhas setas.
24 Consumidos serão de fome, devorados de raios e de amarga destruição; e contra eles enviarei dentes de feras, juntamente com o veneno dos que se arrastam no pó.
25 Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor, tanto ao mancebo como à virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido.
26 Eu teria dito: Por todos os cantos os espalharei, farei cessar a sua memória dentre os homens,
27 se eu não receasse a vexação da parte do inimigo, para que os seus adversários, iludindo-se, não dissessem: A nossa mão está exaltada; não foi o Senhor quem fez tudo isso.
28 Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento.
29 Se eles fossem sábios, entenderiam isso, e atentariam para o seu fim!
30 Como poderia um só perseguir mil, e dois fazer rugir dez mil, se a sua Rocha não os vendera, e o Senhor não os entregara?
31 Porque a sua rocha não é como a nossa Rocha, sendo até os nossos inimigos juízes disso.
32 Porque a sua vinha é da vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, seus cachos são amargos.
33 O seu vinho é veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras.
34 Não está isto encerrado comigo? selado nos meus tesouros?
35 Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo em que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar.
36 Porque o Senhor vindicará ao seu povo, e se arrependerá no tocante aos seus servos, quando vir que o poder deles já se foi, e que não resta nem escravo nem livre.
37 Então dirá: Onde estão os seus deuses, a rocha em que se refugiavam,
38 os que comiam a gordura dos sacrifícios deles e bebiam o vinho das suas ofertas de libação? Levantem-se eles, e vos ajudem, a fim de que haja agora refúgio para vós.
39 Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar da minha mão.
40 Pois levanto a minha mão ao céu, e digo: Como eu vivo para sempre,
41 se eu afiar a minha espada reluzente, e a minha mão travar do juízo, então retribuirei vingança aos meus adversários, e recompensarei aos que me odeiam.
42 De sangue embriagarei as minhas setas, e a minha espada devorará carne; do sangue dos mortes e dos cativos, das cabeças cabeludas dos inimigos
43 Aclamai, ó nações, com alegria, o povo dele, porque ele vingará o sangue dos seus servos; aos seus adversários retribuirá vingança, e fará expiação pela sua terra e pelo seu povo.
44 Veio, pois, Moisés, e proferiu todas as palavras deste cântico na presença do povo, ele e Oseias, filho de Num.
45 E, acabando Moisés de falar todas essas palavras a todo o Israel,
46 disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que eu hoje vos testifico, as quais haveis de recomendar a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei.
47 Porque esta palavra não vos é vã, mas é a vossa vida, e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir.
48 Naquele mesmo dia falou o Senhor a Moisés, dizendo:
49 Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que eu dou aos filhos de Israel por possessão;
50 e morre no monte a que vais subir, e recolhe-te ao teu povo; assim como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo;
51 porquanto pecastes contra mim no meio dos filhos de Israel, junto às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel.
52 Pelo que verás a terra diante de ti, porém lá não entrarás, na terra que eu dou aos filhos de Israel.“ (Dt 32.1-52).

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