Se
nada mais fosse dito além das coisas referidas nos capítulos anteriores, e se o
livro de Deuteronômio fosse fechado com as palavras do capítulo precedente, não
haveria nenhuma esperança para Israel prosseguir como povo da aliança feita com
Abraão, Isaque e Jacó, e mesmo da aliança feita com eles no Sinai, porque a
maldição da Lei os baniria para sempre da presença de Deus quando invalidassem
a aliança com os seus pecados.
Entretanto,
este capítulo 30º de Deuteronômio é
iniciado com a promessa de Deus de usar de misericórdia para com eles, quando
na terra do seu cativeiro eles se voltassem arrependidos de seus pecados para
Ele.
A Lei
colocou diante deles a escolha da bênção ou da maldição, conforme o seu
comportamento diante do Senhor e dos Seus mandamentos.
Haveria
bênçãos no caso de obediência, e maldições no caso de desobediência.
Servir
ou não a Deus não seria uma opção que não afetaria as suas vidas.
Ao
contrário, seria uma questão de vida ou de morte.
A Aliança
que eles fizeram com o Senhor não gerou um compromisso de serem meramente
religiosos, mas um compromisso que afetaria profundamente o rumo das suas
vidas; quer para o bem, quer para o mal.
O bem
por escolherem ouvir o Senhor e guardarem os Seus mandamentos, e o mal, em caso
contrário.
Mas
eles são lembrados que não estavam diante de um Deus inflexível e implacável,
pois Ele sabia perfeitamente que o homem é carnal e dado a se desviar dos Seus
caminhos, e não andará neles caso não seja assistido pela Sua graça e
misericórdia, e também pelo temor que Lhe é devido.
Assim
como Ele disse que não destruiria mais a terra com as águas do dilúvio, por
saber que o homem é carnal; de igual modo Ele fez promessas de misericórdia
para que Israel pudesse retornar para Ele depois que eles Lhe tivessem voltado
as costas para servirem a outros deuses.
Ele
aceitaria a esposa infiel de volta, desde que esta deixasse os seus amantes e
voltasse para o Seu marido.
O
Senhor sabia em todo o tempo que estava entrando em aliança com uma esposa que
lhe seria infiel em várias ocasiões, mas nem por isso deixou de desposá-la (a
nação de Israel) porque a amava.
De
igual modo, os cristãos da Igreja de Cristo, apesar
de suas infidelidades para com o Senhor, não podem romper o laço matrimonial
que têm com Ele porque são laços indissolúveis em razão da perfeita fidelidade
do Senhor, que permanece fiel ao que nos tem prometido, apesar da nossa
infidelidade.
Por
esta promessa de misericórdia e restauração da Antiga Aliança,
vemos que o caráter de Deus é realmente perdoador e compassivo.
Nenhum
pecador, por pior que seja, poderá se desculpar em juízo de não ter alcançado a
salvação, porque a misericórdia do Senhor é infinita.
Ele
tem prometido que usa de misericórdia com qualquer um, independentemente de
seus méritos.
Isto
significa que ninguém poderá impugnar a decisão de Deus de usar de misericórdia
para com o pior dos pecadores, porque Ele determinou em Sua Soberania usar de
misericórdia com quem Ele quisesse, isto é, conforme a Sua própria vontade, e
nada mais.
Ninguém
poderá se desculpar pelo fato de se ter
desviado e não ter buscado reconciliação com o Senhor e com a Sua Igreja,
porque ninguém está excluído de alcançar misericórdia quando se arrepende e se
volta para Deus.
O
verso 10 fala de conversão e do modo desta conversão:
“quando
obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus
estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.”
Os
versos 11 a 14 falam da possibilidade e alcance próximo desta conversão, uma
vez que a vontade revelada de Deus é conhecida na Sua Palavra, e o que crê na
Palavra do Senhor e se dispõe a obedecê-la, será salvo.
Estas
palavras de Moisés citadas nos versos 11 a 14 são usadas pelo apóstolo Paulo em
Rom 10.6-8 para se referir ao evangelho de Cristo, que salva mediante a mesma
conversão em se dizer não ao pecado e se voltar para Deus e para a Sua Palavra:
“Porque
este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco
está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e
no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Nem está além do mar,
para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará
ouvir, para que o cumpramos? Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e
no teu coração, para a cumprires.” (Rom 10.11 a
14).
O que
tanto Moisés quanto Paulo querem se referir é que a Palavra de Deus para a
salvação já foi revelada por Ele de uma vez para sempre e está registrada na
Bíblia.
Não
precisamos de nenhuma nova revelação, de nenhum novo profeta, de nenhuma nova
visão ou sonho para sabermos qual é a vontade de Deus relativamente a nós para
que possamos ser salvos.
A Sua
vontade já está revelada na Bíblia.
O
Espírito Santo abrirá o entendimento daqueles que Se aproximarem de Deus com
todo o coração e alma, para que possam não somente entender a
Sua Palavra, como também a serem transformados por meio dela em novas
criaturas.
Há
uma ilustração interessante neste capítulo, quanto ao fato de que os povos
inimigos que o próprio Deus trouxe para oprimir e desterrar os israelitas, por
causa da sua desobediência, seriam repreendidos pelo
Senhor assim que Seu povo buscasse se converter dos seus maus caminhos.
O
mesmo se dá com cristãos desobedientes que são
entregues a Satanás para destruição da carne.
Caso
eles se arrependam dos seus pecados e voltem para Deus numa verdadeira
conversão que implique na obediência à Sua Palavra, eles não são apenas
restaurados à comunhão, como os espíritos malignos que os oprimiam são
repreendidos e afastados pelo Senhor.
Muitas
das aflições que sofremos têm o propósito de nos conduzirem ao arrependimento e
à conversão ao Senhor e à Sua Palavra.
Ninguém
deve contar com a aprovação e a bênção do Senhor quando vive na prática
deliberada do pecado, mas pode e deve esperar a Sua bênção quando se arrepende
e se converte dos seus maus caminhos.
Isto
é prometido pelo Senhor abundantemente em várias passagens das Escrituras,
como por exemplo em Jer 31.18-20 e II Crôn
7.13,14.
Verdadeiros
penitentes podem ter grande encorajamento quanto às compaixões e misericórdias
do Senhor, que nunca falham.
Moisés
fecha este capítulo 30º com uma convocação aos
israelitas para que se apegassem verdadeiramente ao Senhor, porque nisto estava
a felicidade e a vida deles.
Não
haveria nenhuma bênção vivendo longe do Senhor.
Não
haveria nenhuma vida aparte da comunhão com Ele.
Seria
marcante entre eles a diferença que haveria entre os que servissem e amassem a
Deus e aqueles que não o servissem e amassem, porque o próprio Deus os
distinguiria com o derramar da sua bênção e vida para os primeiros, e das suas
maldições e castigos para os últimos.
A
adoração verdadeira ao Senhor traria vida, e a adoração aos falsos deuses lhes
traria morte.
É
isto o que sempre ocorreu no mundo.
Os
que se voltam para Deus encontram a vida, e os que resistem a Ele à Sua vontade
permanecem debaixo da Sua ira e mortos em seus pecados.
A
Palavra de Deus é, portanto um atalaia que adverte aos homens em toda a parte
sobre a sua condição diante de Deus.
Ela é
uma Palavra de vida para os que nela crêem e se arrependem de seus pecados, por
darem crédito à Palavra do Senhor que é a verdade.
E os
que a ignoram ou que resistem a ela não lhe dando a devida atenção permanecerão
condenados em seus pecados.
Por
isso Jesus diz quanto à Palavra do evangelho:
“Quem
me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra
que tenho pregado, essa o julgará no último dia.” (Jo 12.48).
O
sentido do Novo Testamento é o mesmo, porque o evangelho coloca todo homem
diante da vida ou da morte, da maldição ou da bênção.
“Quem
crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).
“1
Quando te sobrevierem todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que pus
diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações para onde o Senhor
teu Deus te houver lançado,
2 e
te converteres ao Senhor teu Deus, e obedeceres à sua voz conforme tudo o que
eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua
alma,
3 o
Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e
tornará a ajuntar-te dentre todos os povos entre os quais te houver espalhado o
senhor teu Deus.
4
Ainda que o teu desterro tenha sido para a extremidade do céu, desde ali te
ajuntará o Senhor teu Deus, e dali te tomará;
5 e o
Senhor teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te
fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais.
6
Também o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua
descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de
toda a tua alma, para que vivas.
7 E o
Senhor teu Deus porá todas estas maldições sobre os teus inimigos, sobre
aqueles que te tiverem odiado e perseguido.
8 Tu
te tornarás, pois, e obedecerás à voz do Senhor, e observarás todos os seus
mandamentos que eu hoje te ordeno.
9
Então o Senhor teu Deus te fará prosperar grandemente em todas as obras das
tuas mãos, no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do
teu solo; porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como
se alegrou em teus pais;
10
quando obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os
seus estatutos, escritos neste livro da lei; quando te converteres ao Senhor
teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma.
11
Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil demais, nem tampouco
está longe de ti.
12
Não está no céu para dizeres: Quem subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e
no-lo fará ouvir, para que o cumpramos?
13
Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, e no-lo
trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos?
14
Mas a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a
cumprires.
15 Vê
que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.
16 Se
guardares o mandamento que eu hoje te ordeno de amar ao Senhor teu Deus, de andar
nos seus caminhos, e de guardar os seus mandamentos, os seus estatutos e os
seus preceitos, então viverás, e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te
abençoará na terra em que estás entrando para a possuíres.
17
Mas se o teu coração se desviar, e não quiseres ouvir, e fores seduzido para
adorares outros deuses, e os servires,
18
declaro-te hoje que certamente perecerás; não prolongarás os dias na terra para
entrar na qual estás passando o Jordão, a fim de a possuíres.
19 O
céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a
vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas,
tu e a tua descendência,
20
amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz, e te apegando a ele; pois ele
é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; e para que habites na terra que
o Senhor prometeu com juramento a teus pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó, que
lhes havia de dar.“ (Dt 30.1-20).
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