quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Princípio Divino da Autoridade – Deuteronômio 17



Temos, no capítulo 17º de Deuteronômio, a repetição de leis contra a idolatria, e na verdade grande parte do livro de Deuteronômio consiste na repetição de diversas leis, tendo em vista que cerca de quarenta anos haviam se passado, desde a escrita dos livros de Êxodo e Levítico, e aquela nova geração de israelitas que entraria em Canaã, estava sendo relembrada nestes discursos de Moisés no último ano da sua vida, qual era o dever deles para com o Senhor.
Daí o significado do livro de Deuteronômio, deutero = segunda, nomos = lei, isto é, uma segunda lei, não no sentido de uma nova lei, ou uma outra aliança, mas no de ser uma repetição da primeira, ainda que nem tudo o que está registrado nos demais livros da Lei, esteja contido neste livro.
Um detalhamento da Lei é feito aqui e ali, especificando mandamentos anteriormente registrados em Êxodo, Levítico e Números, sendo que neste capítulo, em relação à idolatria é dito diretamente que a adoração de falsos deuses, incluindo a adoração do sol, da lua ou de qualquer astro, muito comum entre os pagãos, era terminantemente proibida (v. 3).
Os idólatras israelitas deveriam ser mortos por apedrejamento, mas não seria aceita a denúncia de uma só testemunha contra eles, senão de duas ou três no mínimo (v. 6), e cabia às próprias testemunhas iniciar o ato de apedrejamento.
Paulo retirou deste princípio da lei a ordenança de que não se aceitasse nenhuma denúncia contra um presbítero da Igreja de Cristo senão pela boca de duas ou três testemunhas (I Tim 5.19).
É ordenada uma completa obediência às autoridades, especialmente às sentenças determinadas pelos sacerdotes e juízes, e os casos de rebelião contra a autoridade, particularmente contra um sacerdote ou juiz,  deveriam ser punidos com a morte (v. 13).
Disto se aprende por princípio que o mandamento que encontramos no Novo Testamento do dever de se honrar e de ser submisso às autoridades constituídas é um dever que foi estabelecido pelo próprio Deus, desde o princípio.
Daí, retiramos nosso dever de obedecer e sermos submissos aos ministros do evangelho, aos governantes e aos magistrados, porque a autoridade civil, como diz Paulo em Rom 13.4, é ministro de Deus para o nosso bem, e quem resiste portanto à autoridade, resiste à ordenança de Deus.       
Num mundo especialmente como o nosso, em que se perdeu muito do respeito e o temor da autoridade, pela insuflação do inferno contra a obediência que lhe é devida, tem sido a causa de muito transtorno nas vidas de muitos, que por não   viverem numa atitude interna, de coração, de submissão à autoridade, conforme é da vontade do Senhor, difamam aqueles que estão em posição de autoridade, se opõem e se rebelam contra o cargo, em que estão investidos, para o seu próprio mal, porque poderes espirituais e leis espirituais, operam em todo o tempo, vindo especialmente da parte de Deus, contra os que se rebelam contra a autoridade, sejam eles quem forem.
A morte determinada na Antiga Aliança para os casos de rebelião contra a autoridade é na verdade, uma figura da punição que ocorre no mundo espiritual, vinda da parte de Deus, como castigo ou correção contra a rebelião, que na verdade não é contra a pessoa que ocupa a posição de autoridade, mas contra o próprio Deus que a instituiu. Daí dizer o apóstolo Paulo em Rom 13.2:
“Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.”
Há, portanto uma condenação determinada, que não vindo sobre nós da parte da própria autoridade, certamente virá da parte de Deus, que é justo Juiz, e tudo julga.
Em II Pe 2.9-11 lemos o seguinte:
“também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.”
Se os ímpios já estão sendo castigados, conforme diz o apóstolo em razão destas coisas, como Deus se agradaria de ver tais atitudes no Seu próprio povo?
É para a honra do próprio Deus que a autoridade deve ser respeitada e obedecida.   
Em Israel, o rei deveria ser escolhido pelo Senhor, e não poderia ser de um país estrangeiro (v. 15).
Diferentemente dos reis das demais nações ele não poderia governar tiranicamente sobre Israel, nem buscar se exaltar sobremaneira acima do povo, pela acumulação de riquezas, para afirmar a sua dominação pessoal, como por exemplo, multiplicar para si cavalos, mulheres, prata e ouro (v. 16,17).
Comumente, Salomão paga a conta sozinho da fama da transgressão deste mandamento, apesar de ser correto que ele sobejou em muito em relação a isto, no entanto não foi o único rei em Israel que deixou de atender este mandado de Deus, para que não se tornasse um laço, não somente para o próprio rei, como também para todo o povo.
O Rei de Israel, que deve ser exaltado é o Senhor, e não o ocupante do trono.
Para tanto, o rei deveria se submeter a Deus, através da obediência aos Seus mandamentos, tornando-se exemplo para o povo, e assim foi ordenado que tivesse uma cópia da Lei consigo em todo o tempo, e que a lesse todos os dias da sua vida, com o propósito de aprender a temer a Deus e a guardar os Seus mandamentos (v. 18,19).
Traçando um paralelo disto com os ministros do evangelho, que foram constituídos pelo Espírito Santo para o governo da Igreja, como poderão os mesmos apascentarem o rebanho do Senhor, se eles próprios não se alimentam diariamente da Sua Palavra?
Como alimentarão os famintos quando eles não têm qualquer alimento para lhes dar?
Como ensinarão o temor do Senhor pelo que aprenderam em Sua Palavra, quando eles próprios não o conhecem?
Paulo pôde cumprir fielmente o ministério que recebeu da parte de Deus, porque  conhecia o temor do Senhor, que foi adquirido especialmente pela meditação contínua na Sua Palavra, chegando portanto ao conhecimento de qual é a Sua vontade para o Seu povo.
“Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens; mas, a Deus já somos manifestos, e espero que também nas vossas consciências sejamos manifestos.” (II Cor 5.11).            
É por isso que ele descreve o dever da obediência e submissão como sendo, sobretudo um ato motivado pelo temor devido a Deus:
“sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.” (Ef 5.21).
“Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo,” (Ef 6.5).
“De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor;” (Fp 2.12).
Nisto é acompanhado pelos demais apóstolos:
“E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação,” (I Pe 1.17).
“Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor; (Hb 12.28).
Destes poucos versículos podemos apreender um pouco da atmosfera que reinava na Igreja Primitiva, pelos ensinamentos recebidos diretamente de Cristo, e que apontavam para a própria atmosfera celestial, que é de plena obediência e submissão pelo devido temor à majestade, santidade e justiça de Deus, que abomina um espírito de rebelião em quaisquer de suas formas. Satanás e os demônios foram precipitados do céu em razão deste pecado.
O espírito de respeito e temor cai bem a todos e em todas as ocasiões, mesmo quando são contestados os atos injustos de uma autoridade tirânica.  
Mas se entre as autoridades, que são instituídas por Deus, alguém abusar ou desonrar o cargo em que foi investido, o tal prestará contas a Ele, mas ainda neste caso, cabe aos que lhe estão subordinados, manter a devida atitude de submissão em seus corações, conforme é da vontade do Senhor, e por isso vemos em não poucas passagens bíblicas tal recomendação, mesmo no Novo Testamento, como por exemplo, em I Pe 2.17-19:
“Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei. Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus. Porque isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.”
É importante observar que o objetivo em vista do Senhor é principalmente o de gerar o temor em nossos espíritos, pela Sua própria autoridade, em nome da qual devem atuar os Seus ministros.
Por conseguinte vemos neste capítulo um tipo de introdução para o que será dito no seguinte, especialmente em Dt 18.19, onde é referido pelo próprio Deus o juízo que sobreviria àqueles que desprezassem a autoridade de Jesus.
O mal da desobediência.
A rebelião e teimosia de um espírito de contradição e oposição a Deus, ou daqueles que estão investidos da Sua autoridade, é um princípio de desprezo e egoísmo de justiça própria, e para o Senhor isto é como a feitiçaria e a idolatria.
A sentença da Lei para os que se rebelassem contra a autoridade era a de morte.
Isto é algo muito sério para ser considerado, porque ainda que muitos não sejam visitados com a morte física na presente dispensação da graça, por conta da sua rebelião contra a autoridade, certamente permanecerão em estado de morte espiritual, enquanto permanecerem neste estado, porque Deus não concede a Sua graça ao soberbo, senão ao humilde.
Mesmo cristãos autênticos estão sujeitos a isto e somente serão abençoados quando forem curados de sua rebelião.
Há um castigo espiritual que pode passar despercebido até mesmo daqueles que estiverem sendo submetidos ao mesmo.
Um castigo maior e final será aplicado àqueles que partirem deste mundo em estado de resistência à autoridade do Filho de Deus.
Por isso o autor de Hebreus diz o seguinte:
“Havendo alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?”
Pois conhecemos aquele que disse:
“Minha é a vingança, eu retribuirei.”
E outra vez:
“O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.28-31).
Os sacerdotes e juízes de Israel eram tipo de Cristo, no que se refere a julgarem o povo segundo os preceitos da Antiga Aliança, que também se referem em princípio, como figura de realidades espirituais, pois como vimos antes, aquela morte física determinada para certos tipos de pecados se refere a uma morte muito pior que é a morte espiritual, que pode conduzir à morte eterna.
Nós vemos nos versículos de 8 a 13 deste 17º capitulo de Deuteronômio que todo aquele que rejeitasse a sentença passada pelo sacerdote ou juiz, relativa a um caso difícil deveria ser cumprida fielmente, porque no caso de desconsideração pela decisão do sacerdote ou juiz, por motivo de soberba em julgar e agir segundo a própria deliberação e vontade, o soberbo deveria ser morto de modo a se retirar o mal de Israel, de modo que outros não se sentissem encorajados a seguir o exemplo do rebelde, e assim tivessem o devido temor ao Senhor e às autoridades que Ele constituiu.
Vemos desta forma, a importância de se dar a devida atenção e consideração ao que está revelado na Lei, porque destas passagens das Escrituras, se aprende, por princípio, o grau do temor e obediência que é devido às autoridades constituídas por Deus, a bem das nossas próprias almas, porque a bênção está associada à obediência, e não propriamente obediência aos nossos próprios juízos e valores, senão aos juízos e valores de Deus revelados na Sua Palavra.     
O temor à autoridade traz uma vida quieta e sossegada entre as pessoas, a qual é muito agradável a Deus.
Será a crescente falta deste temor uma das principais causas do tipo de sociedade que temos em nossos dias?


“1 Ao Senhor teu Deus não sacrificarás boi ou ovelha em que haja defeito ou qualquer deformidade; pois isso é abominação ao senhor teu Deus.
2 Se no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá o Senhor teu Deus, for encontrado algum homem ou mulher que tenha feito o que é mau aos olhos do Senhor teu Deus, transgredindo o seu pacto,
3 que tenha ido e servido a outros deuses, adorando-os, a eles, ou ao sol, ou à lua, ou a qualquer astro do exército do céu (o que não ordenei),
4 e isso te for denunciado, e o ouvires, então o inquirirás bem; e eis que, sendo realmente verdade que se fez tal abominação em Israel,
5 então levarás às tuas portas o homem, ou a mulher, que tiver cometido esta maldade, e apedrejarás o tal homem, ou mulher, até que morra.
6 Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não morrerá.
7 A mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo, e depois a mão de todo o povo; assim exterminarás o mal do meio de ti.
8 Se alguma causa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, tornando-se motivo de controvérsia nas tuas portas, então te levantarás e subirás ao lugar que o Senhor teu Deus escolher;
9 virás aos levitas sacerdotes, e ao juiz que houver nesses dias, e inquirirás; e eles te anunciarão a sentença da juízo.
10 Depois cumprirás fielmente a sentença que te anunciarem no lugar que o Senhor escolher; e terás cuidado de fazer conforme tudo o que te ensinarem.
11 Conforme o teor da lei que te ensinarem, e conforme o juízo que pronunciarem, farás da palavra que te disserem não te desviarás, nem para a direita nem para a esquerda.
12 O homem que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse homem morrerá; assumirá de Israel o mal.
13 E todo o povo, ouvindo isso, temerá e nunca mais se ensoberbecerá.
14 Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, e a possuíres e, nela habitando, disseres: Porei sobre mim um rei, como o fazem todas as nações que estão em redor de mim;
15 porás certamente sobre ti como rei aquele que o Senhor teu Deus escolher. Porás um dentre teus irmãos como rei sobre ti; não poderás pôr sobre ti um estrangeiro, homem que não seja de teus irmãos.
16 Ele, porém, não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho.
17 Tampouco multiplicará para si mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem multiplicará muito para si a prata e o ouro.
18 Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, escreverá para si, num livro, uma cópia desta lei, do exemplar que está diante dos levitas sacerdotes.
19 E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, e a guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, a fim de os cumprir;
20 para que seu coração não se exalte sobre seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; a fim de que prolongue os seus dias no seu reino, ele e seus filhos, no meio de Israel.“ (Dt 17.1-20).

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