Temos, no
capítulo 17º de Deuteronômio, a repetição de leis contra a idolatria,
e na verdade grande parte do livro de Deuteronômio consiste na repetição de
diversas leis, tendo em vista que cerca de quarenta anos haviam se passado,
desde a escrita dos livros de Êxodo e Levítico, e aquela nova geração de
israelitas que entraria em Canaã, estava sendo relembrada nestes discursos de
Moisés no último ano da sua vida, qual era o dever deles para com o Senhor.
Daí o
significado do livro de Deuteronômio, deutero = segunda, nomos = lei, isto é,
uma segunda lei, não no sentido de uma nova lei, ou uma outra aliança, mas no
de ser uma repetição da primeira, ainda que nem tudo o que está registrado nos
demais livros da Lei, esteja contido neste livro.
Um
detalhamento da Lei é feito aqui e ali, especificando mandamentos anteriormente
registrados em Êxodo, Levítico e Números, sendo que neste capítulo, em relação
à idolatria é dito diretamente que a adoração de falsos deuses, incluindo a
adoração do sol, da lua ou de qualquer astro, muito comum entre os pagãos, era
terminantemente proibida (v. 3).
Os
idólatras israelitas deveriam ser mortos por apedrejamento, mas não
seria aceita a denúncia de uma só testemunha contra eles, senão de duas ou três
no mínimo (v. 6), e cabia às próprias testemunhas iniciar o ato de
apedrejamento.
Paulo
retirou deste princípio da lei a ordenança de que não se aceitasse nenhuma
denúncia contra um presbítero da Igreja de Cristo senão pela boca de duas ou
três testemunhas (I Tim 5.19).
É
ordenada uma completa obediência às autoridades, especialmente às sentenças
determinadas pelos sacerdotes e juízes, e os casos de rebelião contra a
autoridade, particularmente contra um sacerdote ou juiz, deveriam ser punidos com a morte (v. 13).
Disto
se aprende por princípio que o mandamento que encontramos no Novo Testamento do
dever de se honrar e de ser submisso às autoridades constituídas é um dever que
foi estabelecido pelo próprio Deus, desde o princípio.
Daí,
retiramos nosso dever de obedecer e sermos submissos aos ministros do
evangelho, aos governantes e aos magistrados, porque a autoridade civil, como
diz Paulo em Rom 13.4, é ministro de Deus para o nosso bem, e quem resiste
portanto à autoridade, resiste à ordenança de Deus.
Num
mundo especialmente como o nosso, em que se perdeu muito
do respeito e o temor da autoridade, pela insuflação do inferno contra
a obediência que lhe é devida, tem sido a causa de muito transtorno nas vidas de
muitos, que por não viverem numa
atitude interna, de coração, de submissão à autoridade, conforme é da vontade
do Senhor, difamam aqueles que estão em posição de autoridade, se opõem e se
rebelam contra o cargo, em que estão investidos, para o seu próprio mal, porque
poderes espirituais e leis espirituais, operam em todo o tempo, vindo
especialmente da parte de Deus, contra os que se rebelam contra a
autoridade, sejam eles quem forem.
A
morte determinada na Antiga Aliança para os casos de rebelião contra a autoridade
é na verdade, uma figura da punição que ocorre no mundo espiritual, vinda da
parte de Deus, como castigo ou correção contra a rebelião, que na verdade não é
contra a pessoa que ocupa a posição de autoridade, mas contra o próprio Deus
que a instituiu. Daí dizer o apóstolo Paulo em Rom 13.2:
“Por
isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem
trarão sobre si mesmos a condenação.”
Há,
portanto uma condenação determinada, que não vindo sobre nós da parte da
própria autoridade, certamente virá da parte de Deus, que é justo Juiz, e tudo
julga.
Em II
Pe 2.9-11 lemos o seguinte:
“também
sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os
injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a
carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade.
Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, enquanto que os
anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo
blasfemo diante do Senhor.”
Se os
ímpios já estão sendo castigados, conforme diz o apóstolo em razão destas
coisas, como Deus se agradaria de ver tais atitudes no Seu próprio povo?
É
para a honra do próprio Deus que a autoridade deve ser respeitada e
obedecida.
Em
Israel, o rei deveria ser escolhido pelo Senhor, e não poderia ser de um país
estrangeiro (v. 15).
Diferentemente
dos reis das demais nações ele não poderia governar tiranicamente sobre Israel,
nem buscar se exaltar sobremaneira acima do povo, pela acumulação de riquezas,
para afirmar a sua dominação pessoal, como por exemplo, multiplicar para si
cavalos, mulheres, prata e ouro (v. 16,17).
Comumente,
Salomão paga a conta sozinho da fama da transgressão deste mandamento, apesar
de ser correto que ele sobejou em muito em relação a isto, no entanto não foi o
único rei em Israel que deixou de atender este
mandado de Deus, para que não se tornasse um laço, não somente para o próprio
rei, como também para todo o povo.
O Rei
de Israel, que deve ser exaltado é o Senhor, e não o ocupante do trono.
Para
tanto, o rei deveria se submeter a Deus, através da obediência aos Seus
mandamentos, tornando-se exemplo para o povo, e assim foi ordenado que tivesse
uma cópia da Lei consigo em todo o tempo, e que a lesse todos os dias da sua
vida, com o propósito de aprender a temer a Deus e a guardar os Seus
mandamentos (v. 18,19).
Traçando
um paralelo disto com os ministros do evangelho, que foram constituídos pelo
Espírito Santo para o governo da Igreja, como poderão os mesmos apascentarem o
rebanho do Senhor, se eles próprios não se alimentam diariamente da Sua
Palavra?
Como
alimentarão os famintos quando eles não têm qualquer alimento para lhes dar?
Como
ensinarão o temor do Senhor pelo que aprenderam em Sua Palavra, quando eles próprios
não o conhecem?
Paulo
pôde cumprir fielmente o ministério que recebeu da parte de Deus, porque conhecia o temor do Senhor, que foi adquirido
especialmente pela meditação contínua na Sua Palavra, chegando portanto ao
conhecimento de qual é a Sua vontade para o Seu povo.
“Portanto,
conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens; mas, a Deus já
somos manifestos, e espero que também nas vossas consciências sejamos
manifestos.” (II Cor 5.11).
É por
isso que ele descreve o dever da obediência e submissão como sendo, sobretudo
um ato motivado pelo temor devido a Deus:
“sujeitando-vos
uns aos outros no temor de Cristo.” (Ef 5.21).
“Vós,
servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na
sinceridade de vosso coração, como a Cristo,” (Ef 6.5).
“De
sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha
presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa
salvação com temor e tremor;” (Fp 2.12).
Nisto
é acompanhado pelos demais apóstolos:
“E,
se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de
cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação,” (I Pe 1.17).
“Pelo
que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela
qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor; (Hb 12.28).
Destes
poucos versículos podemos apreender um pouco da atmosfera que reinava na Igreja
Primitiva, pelos ensinamentos recebidos diretamente de Cristo, e que
apontavam para a própria atmosfera celestial, que é de plena obediência e
submissão pelo devido temor à majestade, santidade e justiça de Deus, que
abomina um espírito de rebelião em quaisquer de suas formas. Satanás e os
demônios foram precipitados do céu em razão deste pecado.
O
espírito de respeito e temor cai bem a todos e em todas as ocasiões, mesmo
quando são contestados os atos injustos de uma autoridade tirânica.
Mas
se entre as autoridades, que são instituídas por Deus, alguém abusar ou
desonrar o cargo em que foi investido, o tal prestará contas a Ele, mas ainda
neste caso, cabe aos que lhe estão subordinados, manter a devida atitude de
submissão em seus corações, conforme é da vontade do Senhor, e por isso vemos
em não poucas passagens bíblicas tal recomendação, mesmo no Novo Testamento,
como por exemplo, em I Pe 2.17-19:
“Honrai
a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei. Vós, servos,
sujeitai-vos com todo o temor aos vossos senhores, não somente aos bons e
moderados, mas também aos maus. Porque isto é agradável, que alguém, por causa
da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.”
É
importante observar que o objetivo em vista do Senhor é principalmente o de
gerar o temor em nossos espíritos, pela Sua própria autoridade, em nome da qual
devem atuar os Seus ministros.
Por
conseguinte vemos neste capítulo um tipo de introdução para o que será dito no
seguinte, especialmente em Dt 18.19, onde é referido pelo próprio Deus o juízo
que sobreviria àqueles que desprezassem a autoridade de Jesus.
O mal
da desobediência.
A
rebelião e teimosia de um espírito de contradição e oposição a Deus, ou
daqueles que estão investidos da Sua autoridade, é um princípio de desprezo e
egoísmo de justiça própria, e para o Senhor isto é como a feitiçaria e a
idolatria.
A
sentença da Lei para os que se rebelassem contra a autoridade era a de morte.
Isto
é algo muito sério para ser considerado, porque ainda que muitos não sejam
visitados com a morte física na presente dispensação da graça, por conta da sua
rebelião contra a autoridade, certamente permanecerão em estado de morte
espiritual, enquanto permanecerem neste estado,
porque Deus não concede a Sua graça ao soberbo, senão ao humilde.
Mesmo
cristãos autênticos estão sujeitos a isto e somente serão
abençoados quando forem curados de sua rebelião.
Há um
castigo espiritual que pode passar despercebido até mesmo daqueles que
estiverem sendo submetidos ao mesmo.
Um
castigo maior e final será aplicado àqueles que partirem deste mundo em estado
de resistência à autoridade do Filho de Deus.
Por
isso o autor de Hebreus diz o seguinte:
“Havendo
alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas
ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor
aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com
que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?”
Pois
conhecemos aquele que disse:
“Minha
é a vingança, eu retribuirei.”
E
outra vez:
“O
Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb
10.28-31).
Os
sacerdotes e juízes de Israel eram tipo de Cristo, no que se refere a julgarem
o povo segundo os preceitos da Antiga Aliança, que também se referem em
princípio, como figura de realidades espirituais, pois como vimos antes, aquela
morte física determinada para certos tipos de pecados se refere a uma morte
muito pior que é a morte espiritual, que pode conduzir à morte eterna.
Nós
vemos nos versículos de 8 a 13 deste 17º capitulo
de Deuteronômio que todo aquele que rejeitasse a sentença passada pelo
sacerdote ou juiz, relativa a um caso difícil deveria ser cumprida fielmente,
porque no caso de desconsideração pela decisão do sacerdote ou juiz, por motivo
de soberba em julgar e agir segundo a própria deliberação e vontade, o soberbo
deveria ser morto de modo a se retirar o mal de Israel, de modo que outros não
se sentissem encorajados a seguir o exemplo do rebelde, e assim tivessem o
devido temor ao Senhor e às autoridades que Ele constituiu.
Vemos
desta forma, a importância de se dar a devida atenção e consideração ao que
está revelado na Lei, porque destas passagens das Escrituras, se aprende, por
princípio, o grau do temor e obediência que é devido às autoridades
constituídas por Deus, a bem das nossas próprias almas, porque a bênção está
associada à obediência, e não propriamente obediência aos nossos próprios
juízos e valores, senão aos juízos e valores de Deus revelados na Sua
Palavra.
O
temor à autoridade traz uma vida quieta e sossegada entre as pessoas, a qual é
muito agradável a Deus.
Será
a crescente falta deste temor uma das principais causas do tipo de sociedade
que temos em nossos dias?
“1 Ao
Senhor teu Deus não sacrificarás boi ou ovelha em que haja defeito ou qualquer
deformidade; pois isso é abominação ao senhor teu Deus.
2 Se
no meio de ti, em alguma das tuas cidades que te dá o Senhor teu Deus, for
encontrado algum homem ou mulher que tenha feito o que é mau aos olhos do
Senhor teu Deus, transgredindo o seu pacto,
3 que
tenha ido e servido a outros deuses, adorando-os, a eles, ou ao sol, ou à lua,
ou a qualquer astro do exército do céu (o que não ordenei),
4 e
isso te for denunciado, e o ouvires, então o inquirirás bem; e eis que, sendo
realmente verdade que se fez tal abominação em Israel,
5
então levarás às tuas portas o homem, ou a mulher, que tiver cometido esta
maldade, e apedrejarás o tal homem, ou mulher, até que morra.
6
Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer;
pela boca duma só testemunha não morrerá.
7 A
mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo, e depois a mão de
todo o povo; assim exterminarás o mal do meio de ti.
8 Se
alguma causa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre
demanda e demanda, entre ferida e ferida, tornando-se motivo de controvérsia
nas tuas portas, então te levantarás e subirás ao lugar que o Senhor teu Deus
escolher;
9
virás aos levitas sacerdotes, e ao juiz que houver nesses dias, e inquirirás; e
eles te anunciarão a sentença da juízo.
10
Depois cumprirás fielmente a sentença que te anunciarem no lugar que o Senhor
escolher; e terás cuidado de fazer conforme tudo o que te ensinarem.
11
Conforme o teor da lei que te ensinarem, e conforme o juízo que pronunciarem,
farás da palavra que te disserem não te desviarás, nem para a direita nem para
a esquerda.
12 O
homem que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali
para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse homem morrerá; assumirá de
Israel o mal.
13 E
todo o povo, ouvindo isso, temerá e nunca mais se ensoberbecerá.
14
Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, e a possuíres e, nela
habitando, disseres: Porei sobre mim um rei, como o fazem todas as nações que
estão em redor de mim;
15
porás certamente sobre ti como rei aquele que o Senhor teu Deus escolher. Porás
um dentre teus irmãos como rei sobre ti; não poderás pôr sobre ti um
estrangeiro, homem que não seja de teus irmãos.
16
Ele, porém, não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito,
para multiplicar cavalos; pois o Senhor vos tem dito: Nunca mais voltareis por
este caminho.
17
Tampouco multiplicará para si mulheres, para que o seu coração não se desvie;
nem multiplicará muito para si a prata e o ouro.
18
Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, escreverá para
si, num livro, uma cópia desta lei, do exemplar que está diante dos levitas
sacerdotes.
19 E
o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer
ao Senhor seu Deus, e a guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos,
a fim de os cumprir;
20
para que seu coração não se exalte sobre seus irmãos, e não se aparte do
mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; a fim de que prolongue os
seus dias no seu reino, ele e seus filhos, no meio de Israel.“ (Dt 17.1-20).
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