Davi era de fato um homem sábio e um grande santo, conforme
podemos ver das palavras proferidas por ele neste salmo.
Ele não era meramente sábio segundo a letra das Escrituras, mas
segundo tudo o que pôde aprender da experiência prática da vida, em sua intima
comunhão com o Senhor.
Havia em Davi mais sabedoria e santidade do que em muitos cristãos
de nossos dias, porque ele se dispôs a viver inteiramente para o agrado de
Deus, buscando viver no caminho da Sua sabedoria e santidade, e Deus fez com
que ele encontrasse a ambos, e que os percorresse de modo que se tornava cada
vez mais sábio e mais santo.
Veja com que discernimento ele sabia que o verdadeiro sucesso não
consiste na realização de nossos próprios projetos, e de se acumular muitos
bens, fama e poder neste mundo, caso se tenha um coração ímpio, porque, por fim
tudo isso terá sido perdido, e haverá um terrível juízo aguardando por aqueles
que fizeram de tais coisas o deus deles, e que não colocaram por conseguinte a
sua confiança inteiramente no Senhor.
Veja que são as palavras de um rei que tinha força, fama, riquezas
e poder, e no entanto, não permitiu que seu coração e desígnios fossem
dirigidos pelo que possuía, ou mesmo pelo desejo que é muito comum de
aumentá-los, quando se anda segundo a carne e não segundo o espírito.
Davi diz aos homens que façam o bem, e que se alimentem da
verdade, agradando-se do Senhor, porque somente assim fazendo, o coração poderá
achar a verdadeira satisfação que procede de Deus, porque os desejos que serão
achados no coração serão somente os desejos que são aprovados por Ele, e ali
colocados por Ele próprio.
Deus tudo faz quando entregamos o nosso caminho a Ele e temos uma
fé verdadeira que conduzirá tudo a bom termo no que se refere à nossa
caminhada.
Estes que não vivem a invejar a prosperidade dos ímpios, mas que
fazem do próprio Senhor o grande objetivo de suas vidas, verão por fim que é
esta a condição necessária para que Ele faça sobressair a nossa justiça como a
luz, e o nosso direito como o sol do meio-dia.
Ou seja, Ele será o nosso advogado e juiz em todas as nossas
causas, de modo que podemos achar nEle descanso e paz para as nossas almas, sem
que tenhamos que nos irritar com aqueles que prosperam em seus caminhos à custa
de levarem a cabo os seus maus intentos.
O cristão não deve aceitar a provocação que lhe seja feita pelo
diabo, quer diretamente, quer indiretamente por meio dos seus instrumentos, e
deve manter a paz de mente e de espírito em toda e qualquer circunstância.
Por isso deve deixar a ira e abandonar o furor e não viver
impacientemente por coisa alguma, porque no fim o resultado nunca será bom.
O cristão deve ter o temor do Senhor permanentemente, e não imitar
as obras das trevas, porque Ele tem um juízo determinado contra todos os que
praticam o mal, mas os que esperam no Senhor herdarão a terra, conforme a Sua
promessa.
Não é afinal isto que Jesus promete no Sermão do Monte aos mansos?
Ninguém deve se precipitar num juízo incorreto, pensando que o
ímpio há de prevalecer, porque o Senhor é longânimo e paciente, e tem
determinado um dia em que julgará toda a carne.
Neste dia, o ímpio será desarraigado da terra, mas os justos a
receberão por herança, e viverão numa perfeita paz juntamente com o Senhor
e uns com os outros.
Por isso o cristão é chamado a orar pelo ímpio, por mais que este
lhe persiga, porque este se encontra debaixo de uma terrível condenação da qual
poderá ser livrado somente caso se converta ao Senhor.
Assim, Davi afirma que mais vale o pouco do justo do que a
abundância de muitos ímpios, porque esta de nada lhes valerá no dia do Juízo.
Davi sabia que a justificação que é pela graça, mediante a fé, nos
torna herdeiros de uma herança eterna.
Deus havia feito promessas específicas em tal sentido para os
fiéis da sua casa, de que usaria de bondade eterna para com eles, conforme
podemos ver em outras passagens deste salmo, em que ele afirma que aqueles a
quem o Senhor abençoa possuirão a terra; e que o Senhor firma os passos do
homem bom de tal modo que se cair não ficará prostrado, porque o segura pela
sua mão – isto fala da segurança eterna da salvação do justo.
Deus cuida de tal maneira do justo que ainda que venha a ter fome,
não mendigará o pão jamais, porque o Senhor o sustentará.
Davi diz destes que se apartam do mal e que fazem o bem, que a
morada deles será perpétua, isto é, eterna.
Isto porque o Senhor não desampara os seus santos, e os preservará
para sempre, conforme tem prometido de não lançar fora a nenhum que venha a
Ele.
Davi diz que os justos não apenas herdarão a terra mas que
habitarão nela para sempre; porque o Senhor não os deixará nas mãos do
perverso, e nem os condenará no juízo.
Davi estava falando de coisas escatológicas pelo Espírito, porque
disse que o Senhor exaltaria o justo para possuir a terra, e que ele
presenciaria isto quando os ímpios fossem exterminados, e que eles serão
exterminados a um só tempo juntamente com a descendência deles, ou seja, os que
são tão ímpios quanto eles.
Vale a pena inserir no comentário deste salmo a promessa que Deus
fez a Davi quanto à segurança eterna da salvação, conforme palavras de II
Samuel 23.1-7:
“1 São estas as últimas palavras de Davi: Diz
Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o ungido do Deus de Jacó, o
suave salmista de Israel.
2 O Espírito do Senhor fala
por mim, e a sua palavra está na minha língua.
3 Falou o Deus de Israel, a
Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando
governa no temor de Deus,
4 será como a luz da manhã
ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo resplendor
do sol, a erva brota da terra.
5 Pois não é assim a minha
casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo bem
ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo o
meu desejo?
6 Porém os ímpios todos
serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles;
7 mas qualquer que os tocar
se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente queimados
no mesmo lugar.”
As últimas palavras
proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido
realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para
ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo
em todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito de
Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele
usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que
foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque
o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi
chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam
deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem
nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o caráter
de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando ainda
pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não é
assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em
tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e
todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação
eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo,
que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo
homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito,
pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da aliança
da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais frustrará
o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança,
participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
Na verdade, não há outra
esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi.
Tanto que aqueles que
permanecerem na condição de filhos de Belial, por não estarem assim aliançados
com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção, como espinhos, porque não
podem ser tocados com as mãos, isto é, não se permitem serem transformados e
educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar se
armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados no
seu lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão
sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também
serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num
fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais piedosos
nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se deu com
o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar os seus
filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a
corrupção e não a graça, que corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi é
típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda a
sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas
como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa espiritual
de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de continuar o
seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo, que vive e
reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos aqueles que lhes
foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com a
cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre a
qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar
sobre a Sua casa.
E esta segurança é
garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e
consumador da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que se
cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez com
um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse mundo,
no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da
aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos
ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma
aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is
55.3).
É maravilhoso saber que as
últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança
segura e eterna.
Deus fez uma aliança
conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi
que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na
forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca
de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem
ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita
trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará
progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for
completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança
possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos.
Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A
QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que
não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da
salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é
segura, porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal
modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem
estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo
aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será
concluída no céu.
Uma das razões para que o
aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança
é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo.
Ainda que todos os aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática
da justiça.
As misericórdias prometidas
aos aliançados são seguras, e operarão de acordo com as condições estabelecidas
em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular
destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque e
suficiente.
Nada mais do que isto nos
salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a
promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por
causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto
que a nossa salvação depende.
“Não te
indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.
Pois eles
dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.
Confia no
SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.
Agrada-te
do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração.
Entrega o
teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.
Fará
sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao
meio-dia.
Descansa
no SENHOR e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu
caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.
Deixa a
ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal.
Porque os
malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no SENHOR possuirão a terra.
Mais um
pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o
acharás.
Mas os
mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz.
Trama o
ímpio contra o justo e contra ele ringe os dentes.
Rir-se-á
dele o Senhor, pois vê estar-se aproximando o seu dia.
Os ímpios
arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para
matar os que trilham o reto caminho.
A sua
espada, porém, lhes traspassará o próprio coração, e os seus arcos serão
espedaçados.
Mais vale
o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios.
Pois os
braços dos ímpios serão quebrados, mas os justos, o SENHOR os sustém.
O SENHOR
conhece os dias dos íntegros; a herança deles permanecerá para sempre.
Não serão
envergonhados nos dias do mal e nos dias da fome se fartarão.
Os
ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do SENHOR serão como o viço das
pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça.
O ímpio
pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá.
Aqueles a
quem o SENHOR abençoa possuirão a terra; e serão exterminados aqueles a quem
amaldiçoa.
O SENHOR
firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz; se cair, não ficará prostrado, porque o
SENHOR o segura pela mão.
Fui moço
e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua
descendência a mendigar o pão.
É sempre
compassivo e empresta, e a sua descendência será uma bênção.
Aparta-te
do mal e faze o bem, e será perpétua a tua morada.
Pois o
SENHOR ama a justiça e não desampara os seus santos; serão preservados para
sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada.
Os justos
herdarão a terra e nela habitarão para sempre.
A boca do
justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo.
No
coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão.
O
perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida.
Mas o
SENHOR não o deixará nas suas mãos, nem o condenará quando for julgado.
Espera no
SENHOR, segue o seu caminho, e ele te exaltará para possuíres a terra;
presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados.
Vi um
ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano.
Passei, e
eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado.
Observa o
homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade.
Quanto
aos transgressores, serão, à uma, destruídos; a descendência dos ímpios será
exterminada.
Vem do
SENHOR a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação.
O SENHOR
os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nele buscam
refúgio.”
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