quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sansão – Parte 2 – Juízes 14



Nós vemos no início do 14º capítulo de Juízes, que Sansão estava debaixo da orientação extraordinária da Providência, pois se afirma no verso 4 que o desejo dele de se casar com uma mulher filisteia era procedente da parte do Senhor, o qual estava buscado uma ocasião para incitar Sansão contra os filisteus: “Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.”.
Os pais de Sansão argumentaram com ele contra aquele casamento que contrariava o que estava prescrito na Lei de Moisés, mas não foi achado pecado em Sansão aos olhos de Deus em relação a isto porque aquilo, naquela situação excepcional estava provindo do próprio Senhor, e Sansão estava projetado para agir não debaixo de regras fixas, mas sob a completa direção de Deus, para cumprir os propósitos que havia fixado em relação a ele.
Tal como Davi foi citado por Jesus, que tendo comido dos pães da proposição do tabernáculo, que segundo a Lei deveriam ser consumidos exclusivamente pelos sacerdotes, e  no entanto não foi achado pecado em Davi  e seus homens, porque não o fizera por motivo de sacrilégio, mas por estar a serviço de Deus, e necessitavam saciar sua fome, e não havia à mão outro alimento, senão aquele.
Em tudo isto, tanto Sansão, quanto Davi, são tipo de Jesus em Seu elevado ministério, que tendo cumprido toda a Lei, estava não obstante, pela vontade do Pai, acima da própria Lei, e modificou a forma de aplicação de alguns dos seus preceitos para ajustá-la  à Nova Aliança, que Ele próprio inauguraria com a Sua morte e ressurreição. Somente Ele poderia dizer em relação à Lei, quando a modificou nestes aspectos em que deveria ser mudada: “Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo...”. Aos antigos é uma referência aos que estavam debaixo do Antigo Pacto ou Antiga Aliança, mas aos que estariam a partir dali, debaixo de uma Nova Aliança, Jesus disse coisas que alteravam o modo de procedimento quanto a determinadas coisas que eram ordenadas na Lei de Moisés, como por exemplo a questão do olho por olho que foi substituída pelo amor aos inimigos, e à não retaliação, em qualquer caso considerado.
E assim, Sansão era um enigma, um homem que fez o que era realmente grande e bom, através do que era aparentemente fraco e mau, porque ele foi projetado por Deus, não para ser um padrão a nós, mas para ser um tipo dAquele que sozinho, com a força do Seu próprio braço, opera a salvação do seu povo; dAquele que não conheceu nenhum pecado, e que foi feito pecado por nós, e que  se manifestou na semelhança de carne pecadora para que pudesse destruir o pecado (Rm 8.3).
      Tal como no caso de Oseias, que foi levado por Deus a amar e a se casar com uma mulher adúltera, dada a prostituições, para revelar o Seu próprio amor por um povo, com o qual estava aliançado, e que era também adúltero e dado a se prostituir com falsos deuses, também procedeu do Senhor a afeição que ele sentiu por uma adoradora de Dagom, não para demonstrar, neste caso, o amor que Ele tinha pelos filisteus, mas para incitar o juízo que havia determinado sobre eles, em razão do pecado de estarem oprimindo duramente a Israel.
Sansão teria que se infiltrar entre os inimigos de Israel para que se achasse motivo para a destruição deles, e foi este o motivo de ter sido movido a desejar se casar com uma filisteia. Quanto a esta infiltração, Sansão foi também um tipo de Cristo, porque  ele necessitou se infiltrar neste mundo, entre os inimigos de Deus, para trazer salvação ao Seu povo escolhido.
Sansão foi capacitado para a obra de destruição que teria que realizar, recebendo de Deus uma força física maravilhosa e extraordinária, e para que tivesse consciência disso, foi permitido que um leão viesse sobre ele, e se afirma que tendo o Espírito do Senhor se apossado de Sansão, este foi capaz de despedaçar o leão com suas próprias mãos, como se fosse um cabrito (v 6).
Deus fez com que Sansão conhecesse a força que Ele podia lhe dar, de maneira a não temer a nenhuma das dificuldades que teria que enfrentar, por maiores que elas fossem. Do mesmo modo os cristãos na Nova Aliança devem se fortificar na graça que está em Jesus Cristo, porque é assim que poderão vencer todas as dificuldades e aflições deste mundo, por maiores que elas sejam.
Não seria necessário para que Sansão fosse incitado contra os filisteus estando no meio deles, por causa do caráter dos que vivem na prática da impiedade e não têm o temor de um Deus santo e justo que exige que caminhemos de modo correto na Sua presença.
Tendo as solenidades do casamento durado sete dias (v. 10) seguindo o costume dos filisteus, não faltaria oportunidade para que se achasse alguma controvérsia entre ele e aqueles que tinham sido convidados para a festa.
Possivelmente, era comum, para não serem vencidos pelo enfado, a prática de jogos e de propostas de resoluções de enigmas. E Sansão propôs aos filisteus um enigma relativo à colmeia de abelhas que havia produzido mel na carcaça do leão que ele havia matado, com as palavras que lemos no verso 14: “Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura.”. E eles teriam o prazo de sete dias relativo às bodas para decifrá-lo, caso contrário teriam que dar a Sansão trinta mantos e trinta túnicas. Tendo passado três dias, e como não conseguiam decifrar, eles constrangeram a mulher de Sansão a conseguir tirar dele a solução do enigma, porque caso não o fizesse queimariam a ela e a seu pai.
Pensando poupar a própria vida e a de seu pai, e confiando mais no poder daqueles homens no que do seu marido, em vez de declarar o fato ocorrido a Sansão, ela o traiu ao dar a resposta do enigma aos filisteus. Nós veremos adiante que ela e o seu pai acabaram sendo queimados pelos filisteus, e a fidelidade conjugal ter-lhe-ia poupado daquele mal, mas isto seria muito para ser esperado de uma adoradora de Dagom.
Sansão pagou os trinta mantos e túnicas da aposta, só que com o espólio dos compatriotas daqueles filisteus, pois lhes tirou a vida para se apoderar de seus mantos e túnicas (v. 19).  E o Espírito Santo permitiu que Sansão fizesse isto, porque se diz que o Espírito do Senhor se apossou dele quando ele tomou a iniciativa de despojar os filisteus, e isto deu também ocasião para desvinculá-lo das suas novas relações, com o povo que ele deveria subjugar em vez de estar aliançado com ele. 
Ao mesmo tempo que ele passou a ter aversão dos filisteus como era do propósito de Deus, para que vingasse as opressões deles sobre o Seu povo de Israel, Deus também fez com que o ódio dos filisteus fosse incitado contra Sansão, de modo que ao tentarem matá-lo, Deus teria ocasião de revelar através dele toda a Sua grande glória e poder, humilhando toda a força dos filisteus através de um só homem. 
E tal foi a ira que se apoderou de Sansão contra a infidelidade de sua esposa, que ele voltou para a casa dos seus pais, como diz a Palavra, ardendo em ira.
E, sem consultá-lo, o pai da moça deu-a por mulher a um dos filisteus que estava presente à festa de casamento de Sansão. 


“1 Desceu Sansão a Timnate; e vendo em Timnate uma mulher das filhas dos filisteus,
2 subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, dizendo: Vi uma mulher em Timnate, das filhas dos filisteus; agora pois, tomai-ma por mulher.
3 Responderam-lhe, porém, seu pai e sua mãe: Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o nosso povo, para que tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos? Disse, porém, Sansão a seu pai: Toma esta para mim, porque ela muito me agrada.
4 Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do Senhor, que buscava ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.
5 Desceu, pois, Sansão com seu pai e com sua mãe a Timnate. E, chegando ele às vinhas de Timnate, um leão novo, rugindo, saiu-lhe ao encontro.
6 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que ele, sem ter coisa alguma na mão, despedaçou o leão como se fosse um cabrito. E não disse nem a seu pai nem a sua mãe o que tinha feito.
7 Depois desceu e falou àquela mulher; e ela muito lhe agradou.
8 Passado algum tempo, Sansão voltou para recebê-la; e apartando-se de caminho para ver o cadáver do leão, eis que nele havia um enxame de abelhas, e mel.
9 E tirando-o nas mãos, foi andando e comendo dele; chegando aonde estavam seu pai e sua mãe, deu-lhes do mel, e eles comeram; porém não lhes disse que havia tirado o mel do corpo do leão.
10 Desceu, pois, seu pai à casa da mulher; e Sansão fez ali um banquete, porque assim os mancebos costumavam fazer.
11 E sucedeu que, quando os habitantes do lugar o viram, trouxeram trinta companheiros para estarem com ele.
12 Disse-lhes, pois, Sansão: Permiti-me propor-vos um enigma; se nos sete dias das bodas o decifrardes e mo descobrirdes, eu vos darei trinta túnicas de linho e trinta mantos;
13 mas se não puderdes decifrar, vós me dareis a mim as trinta túnicas de linho e os trinta mantos. Ao que lhe responderam eles: Propõe o teu enigma, para que o ouçamos.
14 Então lhes disse: Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura. E em três dias não puderam decifrar o enigma.
15 Ao quarto dia, pois, disseram à mulher de Sansão: Persuade teu marido a que declare o enigma, para que não queimemos a fogo a ti e à casa de teu pai. Acaso nos convidastes para nos despojardes?
16 E a mulher de Sansão chorou diante dele, e disse: Tão-somente me aborreces, e não me amas; pois propuseste aos filhos do meu povo um enigma, e não mo declaraste a mim. Respondeu-lhe ele: Eis que nem a meu pai nem a minha mãe o declarei, e to declararei a ti?
17 Assim ela chorava diante dele os sete dias em que celebravam as bodas. Sucedeu, pois, que ao sétimo dia lho declarou, porquanto o importunava; então ela declarou o enigma aos filhos do seu povo.
18 Os homens da cidade, pois, ainda no sétimo dia, antes de se pôr o sol, disseram a Sansão: Que coisa há mais doce do que o mel? e que coisa há mais forte do que o leão? Respondeu-lhes ele: Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha, não teríeis descoberto o meu enigma.
19 Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que desceu a Asquelom, matou trinta dos seus homens e, tomando as suas vestes, deu-as aos que declararam o enigma; e, ardendo em ira, subiu à casa de seu pai.
20 E a mulher de Sansão foi dada ao seu companheiro, que lhe servira de paraninfo.” (Jz 14.1-20).




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