quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Daniel 5



Mais de duzentos anos antes de Ciro conquistar Babilônia nos dias do rei Belsazar, Deus havia falado através do profeta Isaías (Is 44.28; 45.1) que ele (Ciro), libertaria os judeus do cativeiro em Babilônia, e faria com que retornassem à sua terra na Palestina, para reconstruírem o templo, obra esta que Ciro assumiu, pelo exame das profecias dirigidas a ele, como sendo algo da própria esfera da sua responsabilidade, conforme a determinação que havia recebido de Deus.      
Em 605 a.C. foi levado o primeiro grupo de judeus para o cativeiro em Babilônia.
Cumpridos os setenta anos previstos para o cativeiro (Jer 29.10), prazo este, que havia sido estabelecido por Deus em Sua soberania, cerca de 537 a.C., Babilônia caiu sob o poder do rei Ciro da Pérsia, que decretou neste mesmo ano o retorno dos judeus à Palestina. 
Nabucodonosor efetuou a primeira leva de cativos no primeiro ano do seu reinado, que correspondeu ao quarto do rei Jeoaquim de Judá, e tendo reinado por 45 anos foi sucedido no trono por seu filho Evil-Merodaque, o qual reinou por 23 anos.
Babilônia caiu sob o poder da Pérsia no terceiro ano de Belsazar, neto de Nabucodonosor, somando assim os setenta anos de cativeiro, que haviam sido profetizados por Jeremias.  
Este Belsazar é chamado neste capítulo de Daniel, como sendo filho de Nabucodonosor, no entanto, era um modo comum dos antigos se referirem aos descendentes de uma determinada pessoa, porque como vimos, ele era na verdade, neto, e não filho de Nabucodonosor.
Assim, o Daniel dos capítulos anteriores era jovem, porque neles são narradas suas participações nos primeiros anos do reinado de Nabucodonosor. Todavia, neste capitulo ele já era muito avançado em anos, porque já havia passado cerca de setenta anos desde que fora levado em cativeiro para Babilônia.  
Era chegada a hora da libertação do povo judeu do cativeiro, e também a hora de se dar a Babilônia o pago por todas as suas más obras, que culminaram com este ato extremo de sacrilégio praticado, pelo rei Belsazar, do qual não tinham sequer ousado  em pensar perpetrar, os seus antecessores no trono, Evil-Merodaque e Nabucodonosor.
O motivo da queda do reino de Babilônia naquela mesma noite do banquete profano, foram os muitos pecados de Babilônia, mas aquela foi a gota de água que precipitou a sua completa ruína, porquanto Daniel afirmou na face de Belsazar o seguinte:
E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.” (v. 23)
Aqueles utensílios sagrados do templo de Jerusalém, que haviam sido trazidos para Babilônia, estavam devidamente guardados reverentemente até então num santuário em honra ao Deus de Israel, mas para demonstrar desprezo pelo Deus dos judeus, Belsazar ordenou que aqueles utensílios fossem trazidos para serem usados no banquete que havia dado aos grandes do reino.
Para que todos os grandes de Babilônia que se encontravam naquele banquete, soubessem que a ruína que viria ainda naquela noite sobre eles, da parte de uma coligação entre medos e persas, tendo à frente os reis Dario e Ciro, não fora uma obra do acaso, mas um juízo de Deus determinado sobre Babilônia, este foi prenunciado com uma escritura na parede do palácio, que fora vista por todos que ali se encontravam, sendo feita por dedos da mão de um homem.  Nada mais se viu além da mão e a escritura que ela produzia na parede.
O rei ficou aterrorizado e prometeu que a qualquer que interpretasse a escritura seria  vestido de púrpura, traria uma cadeia de ouro ao pescoço e seria o terceiro no seu reino.
Como nenhum dos magos e sábios de Babilônia foram capazes de interpretá-la, a rainha mãe lembrou a Belsazar que havia em Babilônia alguém que seria capaz de fazê-lo, porque havia interpretado no passado os sonhos de seu avô Nabucodonosor.
Daniel ao receber do rei a oferta da recompensa prometida, recusou-a, e fez bem ao fazê-lo porque mal sabia Belsazar que morreria ainda naquela mesma noite, e que Babilônia passaria a ser uma província da Média e da Pérsia.
E o fato de Daniel ter dado a interpretação que era contrária ao rei de Babilônia e que favorecia os medos e os persas, deve ter contribuído para que caísse em graça aos olhos dos reis da Média e da Pérsia, conforme ocorreu de fato, vindo a receber de Dario o cargo de sátrapa, sendo um, dos três presidentes dos 127 sátrapas do reino, como veremos no capítulo seguinte.
Quanto à escritura MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM, são palavras relativas a verbos hebraicos, sendo que MENE significa numerar, calcular, contar. Havia apenas um verbo escrito na parede que encerrava um sentido profético que somente poderia ser entendido por revelação divina, e esta foi dada a Daniel, que pôde entender em espírito que aquele numerado, calculado ou contado, significava que Deus havia fixado os números de dias do reinado de Babilônia, e que este tempo já havia sido completado, de modo que já não seria mais um reino sobre a terra.  
TEQUEL, outra palavra hebraica que significa ser pesado. Deus havia colocado o reino de Babilônia em sua balança de justiça, e esta foi achada em falta de justiça suficiente que pudesse livrá-la do Seu juízo.
 PERES, termo hebraico que significa dividido, separado. Na parede foi escrito pharsim que é o plural de Peres, ou seja, separados, divididos. Daniel interpretou a palavra no singular, fazendo com que o seu peso recaísse sobre Belsazar que era a pessoa principal a ser submetida àquele juízo, porque o precipitara, dando-lhe causa, com seu ato profano, de grande desonra e desrespeito ao Deus de Israel. Daniel interpretou profeticamente que aquele divisão significava que o reino seria tirado de Belsazar, e dado aos medos e aos persas. 
Assim, o reino seria separado, porque seria dividido entre os reinos da Média e da Pérsia.  



“1 O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na presença dos mil.
2 Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo, que estava em Jerusalém, para que neles bebessem o rei e os seus grandes, as suas mulheres e concubinas.
3 Então, trouxeram os utensílios de ouro, que foram tirados do templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o rei, os seus grandes e as suas mulheres e concubinas.
4 Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra.
5 No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os dedos que estavam escrevendo.
6 Então, se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro.
7 O rei ordenou, em voz alta, que se introduzissem os encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse aos sábios da Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua interpretação será vestido de púrpura, trará uma cadeia de ouro ao pescoço e será o terceiro no meu reino.
8 Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação.
9 Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, e mudou-se-lhe o semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados.
10 A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei e aos seus grandes, entrou na casa do banquete e disse: Ó rei, vive eternamente! Não te turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante.
11 Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; nos dias de teu pai, se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria como a sabedoria dos deuses; teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros,
12 porquanto espírito excelente, conhecimento e inteligência, interpretação de sonhos, declaração de enigmas e solução de casos difíceis se acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar; chame-se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação.
13 Então, Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou o rei e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá?
14 Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos deuses está em ti, e que em ti se acham luz, inteligência e excelente sabedoria.
15 Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e os encantadores, para lerem esta escritura e me fazerem saber a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas palavras.
16 Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino.
17 Então, respondeu Daniel e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a interpretação.
18 Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino e grandeza, glória e majestade.
19 Por causa da grandeza que lhe deu, povos, nações e homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem queria abatia.
20 Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a sua glória.
21 Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele.
22 Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto.
23 E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste.
24 Então, da parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura.
25 Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM.
26 Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.
27 TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta.
28 PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas.
29 Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu reino.
30 Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus.
31 E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.”



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