quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Isaías - cap 63 e 64

Isaías 63

“1 Quem é este, que vem de Edom, de Bozra, com vestiduras tintas de escarlate? este que é glorioso no seu traje, que marcha na plenitude da sua força? Sou eu, que falo em justiça, poderoso para salvar.
2 Por que está vermelha a tua vestidura, e as tuas vestes como as daquele que pisa no lagar?
3 Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; eu os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor, e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura.
4 Porque o dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos meus remidos é chegado.
5 Olhei, mas não havia quem me ajudasse; e admirei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu próprio braço me trouxe a vitória; e o meu furor é que me susteve.
6 Pisei os povos na minha ira, e os embriaguei no meu furor; e derramei sobre a terra o seu sangue.
7 Celebrarei as benignidades do Senhor, e os louvores do Senhor, consoante tudo o que o Senhor nos tem concedido, e a grande bondade para com a casa de Israel, bondade que ele lhes tem concedido segundo as suas misericórdias, e segundo a multidão das suas benignidades.
8 Porque dizia: Certamente eles são meu povo, filhos que não procederão com falsidade; assim ele se fez o seu Salvador.
9 Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; no seu amor, e na sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os carregou todos os dias da antiguidade.
10 Eles, porém, se rebelaram, e contristaram o seu santo Espírito; pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.
11 Todavia se lembrou dos dias da antiguidade, de Moisés, e do seu povo, dizendo: Onde está aquele que os fez subir do mar com os pastores do seu rebanho? Onde está o que pôs no meio deles o seu santo Espírito?
12 Aquele que fez o seu braço glorioso andar à mão direita de Moisés? que fendeu as águas diante deles, para fazer para si um nome eterno?
13 Aquele que os guiou pelos abismos, como a um cavalo no deserto, de modo que nunca tropeçaram?
14 Como ao gado que desce ao vale, o Espírito do Senhor lhes deu descanso; assim guiaste o teu povo, para te fazeres um nome glorioso.
15 Atenta lá dos céus e vê, lá da tua santa e gloriosa habitação; onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura do teu coração e as tuas misericórdias para comigo estancaram.
16 Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome.
17 Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para te não temermos? Faze voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança.
18 Só por um pouco de tempo o teu santo povo a possuiu; os nossos adversários pisaram o teu santuário.
19 Somos feitos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste, e como os que nunca se chamaram pelo teu nome.”.

Este capítulo é introduzido com a descrição da vitória de Cristo sobre os inimigos do Seu povo, da Sua Igreja, estando aí incluídos os santos que viveram antes do Pentecostes em Jerusalém.
Eles haviam oprimido o Seu povo. Haviam colocado muitos tropeços e tentações diante dos santos para desviá-los da fidelidade deles a Deus, e lhes haviam causado muitas tristezas e sofrimentos.
Mas agora era chegado o dia do acerto de contas com eles, para que não somente os santos fossem vingados, mas para que também a justiça, santidade e poder gloriosos do Senhor fossem manifestados e vindicados neles.
Por isso o conjunto dos inimigos assolados por Cristo em Sua ira foram intitulados debaixo do nome de Edom, por ser o povo descendente de Esaú, e que se levantara na terra  como inimigo de Israel. Israel representa todo o povo de Deus de todas as épocas, e Edom, de igual modo os Seus inimigos que O desprezam, e contra os quais Deus está aborrecido, tal como havia se aborrecido de Esaú no passado. 
A citação particular a Bozra subtende a cidade de Edom que era a pior inimiga de Israel, e assim é feito menção ao seu nome na profecia, não somente de Isaías, como também em outras passagens da Bíblia, para representar a soma de todos os inimigos de Deus e do Seu povo:
“Pois por mim mesmo jurei, diz o Senhor, que Bozra servirá de objeto de espanto, de opróbrio, de ruína, e de maldição; e todas as suas cidades se tornarão em desolações perpétuas.”  (Jer 49.13).
O texto dos versos 1 a 6 deste capítulo de Isaías são paralelos a Apocalipse 19.11-15 que descreve a vitória de Cristo sobre o Anticristo e os exércitos coligados a ele, na batalha do Armagedon.
Assim, o propósito de Deus através do profeta foi principalmente o de consolar o Seu povo quanto aos sofrimentos deles neste mundo, e de demonstrar o quanto Ele fora benigno até mesmo para com os pecados deles, porque estariam sujeitos à mesma destruição que alcançou os Seus inimigos se não fosse o Seu grande amor e misericórdia para com o seu povo, a começar das infidelidades demonstradas por Israel no antigo pacto.
Haverá um grande juízo no qual será manifestada a ira de Deus sobre os ímpios, mas Deus não somente livrou o Seu povo desta ira futura, como também nunca o abandonou por causa do Seu grande amor para com Israel (a verdadeira Igreja de todas as épocas da história da  humanidade).
“16 e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;
17 porque é vindo o grande dia da ira deles; e quem poderá subsistir?”  (Apo 6.16,17).
A partir do verso 7 até o 14 deste capítulo de Isaías, o profeta faz uma revisão em nome da Igreja, com um reconhecimento grato dos procedimentos de Deus para com a Sua Igreja desde os dias da antiguidade.  
A bondade, a benignidade e a misericórdia de Deus para com o Seu povo são celebradas e louvadas (v. 7) porque apesar de tê-lo escolhido para ser um povo santo que não procedesse com falsidade, de modo que se fez o Salvador deles (v. 8), e de ter se angustiado em toda a angústia do Seu povo, tendo enviado o anjo da sua presença para salvá-los de suas angústias sob o opressor e sob as circunstâncias difíceis da vida; tendo-lhes remido e os tomado para Si carregando-os todos os dias da antiguidade (v.9), no entanto, em face de tanta bondade e misericórdia, ainda assim se rebelaram contra Ele e entristeceram o Espírito Santo, pelo que o Senhor teve que agir como um inimigo pelejando contra eles (v. 10), mas por ter lembrado da aliança que fizera com os patriarcas no passado, particularmente de Moisés e do seu povo que indagavam pela Sua presença quando se retirava deles (v. 11 a 13). Em face do arrependimento deles o Espírito do Senhor lhes deu descanso e guiou o Seu povo para a glória do nome do Senhor (v. 14).       
Esta descrição do profeta pode ser aplicada á Igreja de todas as épocas do Cristianismo, porque por mais que qualquer Igreja local seja fiel ao Senhor, sempre haverá momentos de baixa quanto à sua fidelidade na caminhada espiritual. E sempre será pela exclusiva bondade e misericórdia do Senhor que ela será restaurada. É por causa do Seu grande amor e misericórdia para com o Seu povo que não somos consumidos. Porque Ele sabe que somos pó, e sujeitos ainda a uma natureza terrena que necessita ser mortificada completamente para que possamos ser plenamente perfeitos, e isto somente será possível quando Ele voltar para arrebatar a Sua igreja.
Por isso é nosso dever como aparece neste texto de Isaías, tributarmos sempre louvor e gratidão à bondade, benignidade e misericórdia de Deus para conosco, porque somos pecadores, e é em razão exclusivamente da misericórdia que Ele teve para conosco escolhendo-nos por esta mesma misericórdia, e se fazendo Ele próprio o nosso Salvador, porque de outro modo não poderíamos ser salvos da ira futura que Ele manifestará sobre todos aqueles que não foram alvos da Sua grande misericórdia, e que por isso são chamados na Palavra por vasos de ira, por terem rejeitado a bondade e misericórdia que Deus ofereceu gratuitamente aos pecadores. 
Mas o povo de Deus é designado por vasos de misericórdia porque é nos crentes que Deus exibe o quanto Ele é misericordioso porque não somente os livrou da Sua ira vindoura, como vemos nos primeiros versos deste capitulo de Isaías, e em muitas passagens bíblicas, como também tem sido perdoador das transgressões deles. 
A casa de Israel na profecia é uma designação relativa ao povo de Deus de todas as épocas, e  a Igreja está portanto incluída nesta promessa, como se vê por exemplo em Jer 31.31-33, quando foi feita a promessa da Nova Aliança. A verdadeira casa de Israel, o verdadeiro Israel de Deus é composto por todos aqueles que tiveram suas vestes lavadas no sangue de Jesus. 
Em face de tanta bondade e misericórdia nos é ordenado que não entristeçamos o Espírito Santo. O quanto Deus fica desagradado com isto foi fartamente demonstrado na história de Israel, e o apóstolo Paulo nos chama a contemplar o que aconteceu com eles nos dias de Moisés quando saíram do Egito e cobiçaram as coisas más, e murmuraram, fazendo com que o Senhor pelejasse contra o Seu próprio povo (I Cor 10.1-14).  
O fechamento da profecia neste capitulo de Isaías (verso 15 a 19) é uma oração feita pelo profeta ante o atual quadro de miséria espiritual de Israel nos seus dias, e esta oração é modelar para toda Igreja que se encontra em ruína espiritual, como estará a Igreja de Laodicéia citada em Apocalipse nestes últimos dias.
“15 Atenta lá dos céus e vê, lá da tua santa e gloriosa habitação; onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura do teu coração e as tuas misericórdias para comigo estancaram.
16 Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome.
17 Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para te não temermos? Faze voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança.
18 Só por um pouco de tempo o teu santo povo a possuiu; os nossos adversários pisaram o teu santuário.
19 Somos feitos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste, e como os que nunca se chamaram pelo teu nome.” .
Se o Senhor não nos vender colírio para que vejamos e entendamos as coisas espirituais e celestiais; se não nos vender ouro refinado para que sejamos ricos da Sua graça; se não nos der vestes brancas para cobrir a nossa nudez diante de Deus devido ao pecado, nós não podemos triunfar sobre o pecado fazendo morrer a nossa natureza terrena.
Somente o Senhor mesmo pode nos capacitar à vida celestial, espiritual e divina que devemos viver. Somente Ele pode fazer com que tenhamos o nosso tesouro no céu e não na terra, de modo que o nosso coração e pensamentos estejam nas coisas celestiais e não nas que são da terra.
Por isso o profeta ora pedindo que Deus remova o endurecimento do Seu povo.
Quando entramos num viver dominado pela carne automaticamente entramos também num vazio espiritual de uma vida sem a presença de Deus.  
 O profeta expressa o clamor do povo lamentando a falta do zelo e das obras poderosas de Deus. Eles sentiam como que a ternura do coração e as misericórdias do Senhor tivessem estancado, isto é, cessado (v. 15).
Mas em todo verdadeiro crente, mesmo entregue a estes sentimentos de derrota e de ausência de Deus, existe e permanece a convicção de que somente Deus é Pai e conhece perfeitamente o Seu povo, porque é o Redentor dele desde a antiguidade (v. 16). Abraão é chamado de Pai dos crentes, mas Ele não conhece a quase totalidade deles, especialmente a todos os que viveram depois dele, mas o Senhor conhece a todos os Seus filhos. 
Sem Ele estamos mortos. Sem Cristo, fora da videira, somos ramos que secam e morrem. Dependemos inteiramente de estar verdadeiramente em comunhão com Ele para que tenhamos vida, porque Ele é o caminho, a verdade e a vida. 
Por isso não podemos acertar com o caminho de Deus, não permanecendo em Cristo que é o caminho. Orar como fez o profeta para que Deus não nos faça errar o caminho, é portanto o mesmo que pedir que Ele nos mantenha ligados a Cristo. Se o Senhor não amolecer o nosso coração ele ficará no seu estado natural de endurecimento. E um coração endurecido não tem o temor de Deus.
Daí o profeta ter orado para que o Senhor fizesse voltar por amor dos seus servos as tribos da Sua herança; porque reconhecia que foi somente por um pouco de tempo que Israel havia acertado o seu caminhar com o Seu Deus, e no seu presente estado de endurecimento não poderia esperar senão que os seus adversários pisassem no santuário de Deus, e o próprio povo de Israel foi feito como aqueles sobre os quais o Senhor nunca havia dominado e como aqueles que nunca foram chamados pelo Seu santo nome (v. 17 a 19).  
E não é deste mesmo modo que ficam todos aqueles que andam contrariamente à vontade do Senhor na Igreja de Cristo? Eles não se tornam parecidos com aqueles que são do mundo? Eles deveriam fazer esta mesma oração do profeta pedindo que o Senhor por seu amor e misericórdia lhes restaurasse para andarem em todos os Seus caminhos, temendo o Seu grande nome, com um coração amolecido pela Sua graça.


Isaías 64

“1 Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,
2 como quando o fogo incendeia os gravetos, e o fogo faz ferver a água, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que à tua presença tremam as nações!
3 Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes tremiam à tua presença.
4 Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que opera a favor daquele que por ele espera.
5 Tu sais ao encontro daquele que, com alegria, pratica a justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos. Eis que te iraste, porque pecamos; há muito tempo temos estado em pecados; acaso seremos salvos?
6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como o vento, nos arrebatam.
7 E não há quem invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o teu rosto e nos consumiste, por causa das nossas iniquidades.
8 Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos.
9 Não te agastes tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniquidade; olha, pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo.
10 As tuas santas cidades se tornaram em deserto, Sião está feita um ermo, Jerusalém uma desolação.
11 A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada a fogo; e todos os nossos lugares aprazíveis se tornaram em ruínas.
12 Acaso conter-te-ás tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? ficarás calado, e nos afligirás tanto?”

Nós devemos lembrar que não somente o livro do profeta Isaías, como todos os livros da Bíblia foram escritos originalmente sem serem divididos em capítulos e versículos. Desta forma, não há uma quebra na mensagem de um capítulo para outro. E faríamos bem em lembrar disso toda vez que estudarmos a Palavra.
O início deste capítulo é portanto uma continuação da mensagem do capítulo anterior e assim sucessivamente; e isto se dá com todo o texto bíblico, mesmo que haja uma mudança de assunto, o que não é caso com as profecias do livro de Isaías que estamos analisando.
Convém lembrar que o livro do profeta Isaías é considerado como sendo o evangelho segundo Isaías, especialmente a partir do capítulo 40 até o último capítulo, assim como a epístola aos Romanos é chamada de o evangelho segundo Paulo.
É realmente maravilhoso observar que a essência do mistério do evangelho que foi manifestado por Jesus Cristo se encontra no livro de Isaías, especialmente no que se refere ao modo como Deus se relaciona com o Seu povo nas bases da graça, da verdade e da misericórdia e do juízo revelados no evangelho.   
Mas, como dizíamos este capítulo é iniciado com uma continuação da oração contida nos versos finais do capítulo anterior (63).
É um clamor por avivamento. A condição de fracasso, de miséria espiritual foi reconhecida. A ausência do poder do Senhor na Igreja foi lamentado, e agora o coração ora desde as suas profundezas por um avivamento para que tal estado de coisas na Igreja possa ser superado.
“1 Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,
2 como quando o fogo incendeia os gravetos, e o fogo faz ferver a água, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que à tua presença tremam as nações!
3 Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes tremiam à tua presença.”
Este é o clamor por um verdadeiro avivamento. É clamor pela manifestação da própria presença de Deus em toda a Sua glória e poder. Para que todos temam e tremam diante do Seu grande nome. Para que as nações dêem glória à Sua majestade e tremam diante da Sua grandeza e poder. É um clamor por amor à própria glória de Deus, isto é, para que Ele seja glorificado. Este é o desejo de todo servo fiel do Senhor, Ele amará ver o Senhor sendo exaltado e glorificado, e por isso diz: “Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,”  (v. 1).
O profeta lamentou a ruína e destruição de Jerusalém que ainda não havia ocorrido nos seus dias, e que se daria sob os babilônios mais de cem anos depois de Isaías ter assim profetizado.
A profecia apontaria aos judeus qual foi a causa da ruína deles, ao mesmo tempo que lhes incitaria a orarem para que o Senhor lhes restaurasse. 
 De igual modo tem servido para alertar à igreja quanto à necessidade de orar por avivamento para que os crentes vivam realmente em santidade diante do Senhor e para que acrescente novos convertidos à Igreja.
A afirmação e indagação que são feitas no final do verso 5 não retratam a impossibilidade de que seja salvo alguém que esteja vivendo em pecado; mas de que não se pode contar com o livramento de Deus enquanto os crentes vivem de tal maneira.
“Eis que te iraste, porque pecamos; há muito tempo temos estado em pecados; acaso seremos salvos?” (v. 5.b).
O conteúdo desta reflexão nunca pode ser esquecido pelos crentes, para que estejam convictos de que não podem contar com o favor de Deus enquanto vivem deliberadamente na prática do pecado. 
Os crentes devem se lembrar que os olhos de Deus repousam sobre os justos, não simplesmente por terem sido justificados pela fé em Cristo, mas por efetivamente praticarem a justiça evangélica que consiste não na nossa perfeição ou na perfeição das nossas obras, mas no nosso permanente desejo de sermos perfeitos assim como o nosso Pai é perfeito, e pela sinceridade de buscarmos a Sua face para sermos transformados pelo Seu Espírito e sermos habilitados a fazer a Sua vontade, buscando viver em obediência aos Seus mandamentos.
Por isso Isaías afirmou a graça do Senhor, antes de ter  afirmado que o povo se encontrava em pecado despertando a ira de Deus, e que somente aqueles que praticam com alegria a justiça e que se lembram do Senhor em todos os Seus caminhos, podem contar com a Sua santa presença que irá ao encontro deles, isto porque Deus  opera em nosso favor segundo a Sua graça e bondade, somente pelo fato de esperarmos por Ele (v.4, 5).
Tal como o profeta orando no lugar de todo o Israel de Deus, movido pelo Espírito, nós deveríamos também confessar ao Senhor qual é a nossa condição natural de não podermos confiar na nossa justiça própria que é falha e pecaminosa para que possamos ser justificados perante Ele em Sua Grandeza, Justiça e Santidade perfeitas. Nós deveríamos pedir um avivamento, um livramento, como fez o profeta, somente depois de termos confessado a nossa miséria e a miséria espiritual de toda a Igreja, porque somos pessoas falidas aos olhos do Senhor. De nós mesmos não podemos fazer cousa alguma que Lhe seja agradável. Dependemos inteiramente da graça e do poder de Jesus que nos são concedidos pelo Espírito.
“6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como o vento, nos arrebatam.
7 E não há quem invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o teu rosto e nos consumiste, por causa das nossas iniquidades.”.
É somente quando o Senhor manifesta a Sua presença que este quadro de miséria espiritual é vencido. Reconhecemos que somos pobres de espírito, isto é, somos necessitados espirituais, que dependem da provisão do Senhor para sermos enriquecidos espiritualmente.
Então devemos orar pedindo que nos fortifique na graça que está em Cristo Jesus.
E isto deve ser pedido de forma humilde como convém a pobres, tal como fizera o profeta Isaías em nome de Israel:
“8 Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos.
9 Não te agastes tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniquidade; olha, pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo.
10 As tuas santas cidades se tornaram em deserto, Sião está feita um ermo, Jerusalém uma desolação.
11 A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada a fogo; e todos os nossos lugares aprazíveis se tornaram em ruínas.
12 Acaso conter-te-ás tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? ficarás calado, e nos afligirás tanto?”
Quando um crente ou uma Igreja se encontram na condição de terem fama de que vivem, mas estão mortos, como Jesus afirmou em relação á Igreja de Sardes, como poderiam orar por restauração senão da forma humilde que é apontada neste texto de Isaías? Caberia se vangloriarem no fato de que são filhos de Deus por meio de Jesus Cristo e que por isto Ele está obrigado a lhes fazer o bem?
Por isso o Senhor coloca em II Crôn 7.14 a necessidade de que o seu povo não somente se converta a Ele, mas que também se humilhe, quando estiver vivendo em pecado.
E esta necessidade de se humilhar diante de Deus não é necessária somente quando se está vivendo em pecado, como em todos os momentos de nossas vidas. Esta é a razão porque Ele empobrece a muitos crentes ou os mantém em estado de pobreza, porque de outro modo não se humilhariam diante dEle. De Israel nos dias de Moisés é dito que os humilhou no deserto para afinal fazer-lhes bem depois. Isto é necessário porque ainda estamos na carne, e a carne é fraca, ela é dada a se exaltar e a nos dominar com orgulho quando as nossas circunstâncias presentes são elevadas. São raríssimos aqueles que conseguem escapar deste espírito orgulhoso diante da grande abundância de bens e de elevada posição social.
Por isso o Senhor primeiro humilha para depois exaltar. Sabe que se não aprendermos na escola da humilhação não poderemos ser admitidos na carreira da exaltação, porque certamente o nosso coração se elevará e se desviará dEle.       
Há no mundo uma teologia triunfalista e arrogante que esconde esta verdade. A qual produz crentes insolentes e irreverentes na presença de Deus.
A oração humilde do profeta é um bom preventivo contra este mal.
Como poderia uma Igreja que está a ponto de ser vomitada pelo Senhor, como a de Laodicéia, protestar arrogantemente o direito de ser abençoada por Deus? Isto não serviria somente para agravar ainda mais o seu pecado?

Sejamos humildes diante do Senhor porque Ele concede a Sua graça somente a quem se humilha, e todos nós na condição de pecadores que somos sempre teremos motivo para nos humilhar perante Ele.  

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