quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Salmos 54, 57 e 65

SALMO 54 – Salmo de Davi quando os zifeus o delataram a Saul

“Ó Deus, salva-me, pelo teu nome, e faze-me justiça, pelo teu poder.  Escuta, ó Deus, a minha oração, dá ouvidos às palavras da minha boca.  Pois contra mim se levantam os insolentes, e os violentos procuram tirar-me a vida; não têm Deus diante de si.  Eis que Deus é o meu ajudador, o SENHOR é quem me sustenta a vida.  Ele retribuirá o mal aos meus opressores; por tua fidelidade dá cabo deles.  Oferecer-te-ei voluntariamente sacrifícios; louvarei o teu nome, ó SENHOR, porque é bom.  Pois me livrou de todas as tribulações; e os meus olhos se enchem com a ruína dos meus inimigos.” 

Nós temos o registro de duas delações realizadas pelos zifeus, a saber, em I Samuel 23.19-29, e em I Samuel 26.1:

“19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.19-29)

Quando Davi se encontrava numa região do deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em Deus (v. 16) e lhe disse da sua convicção de que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria também a morrer numa batalha contra os filisteus juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul quando assumisse o reino, e isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que  teve que reinar em princípio, somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda a nação.
 Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue Saul insistiu na perseguição e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor Davi não  tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto Davi estava sendo duramente espiado pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras deste Salmo 54 e as do Salmo 63, nos quais vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e interesseiros se levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os perversos.

Vejamos agora o texto de I Samuel 26.1-11:
“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro do acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.” (I Sm 26.1-11)

Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui de novo em perseguição a ele, pois foi incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar o local em que Davi se encontrava.
E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao local onde estavam acampados e pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um só golpe, porque aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus, entregando Saul nas mãos de Davi.
Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da Palavra, pois a nenhum israelita era dado por Deus agir contra aqueles que Ele havia constituído como autoridade sobre eles e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer dos homens que haviam se juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra direta da parte de Deus, como foi o caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural, ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a grande lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer pessoa permanece debaixo da exclusiva autoridade de Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido de autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo qual deve morrer.           
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas para matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser surpreendido por eles, e também para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria à Sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros servos de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou se procurarão se vingar deles quando têm oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo Testamento:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Temos portanto esta ordem de não nos vingarmos, da parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lO, não dando o devido acatamento à Sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do homem (Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus.
E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19 que Saul saiu em perseguição a Davi desta vez mais pela incitação dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que pela sua própria iniciativa, e por isso Davi impôs um anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois quando Satanás perde um instrumento de perseguição ele tentará reavivá-la em outros.
Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é contra carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar com alguns de seus inimigos, que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se encontra na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos demônios, que se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam também debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo permitido atuar contra os santos senão naquilo que lhes for permitido por Deus.  
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença do Senhor, para que indo buscar refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar por força das circunstâncias os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse acusado de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar homenagens aos seus deuses.
É sob esta perspectiva que nós podemos entender o significado das palavras que ele proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.”.
Como não era certamente o Senhor quem estava incitando aquela perseguição, então esta somente poderia estar sendo movida pelos seus inimigos.




SALMO 57 – Salmo de Davi quando fugia de Saul na caverna

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.  Clamarei ao Deus Altíssimo, ao Deus que por mim tudo executa.  Ele dos céus me envia o seu auxílio e me livra; cobre de vergonha os que me ferem. Envia a sua misericórdia e a sua fidelidade.  Acha-se a minha alma entre leões, ávidos de devorar os filhos dos homens; lanças e flechas são os seus dentes, espada afiada, a sua língua.  Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória.  Armaram rede aos meus passos, a minha alma está abatida; abriram cova diante de mim, mas eles mesmos caíram nela.  Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e entoarei louvores.  Desperta, ó minha alma! Despertai, lira e harpa! Quero acordar a alva.  Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações.  Pois a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens.  Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória.” 

Nós usaremos como comentário deste salmo o sermão que Spurgeon escreveu sobre o mesmo, e que estamos apresentando a seguir em forma adaptada:

Quando Davi fez a oração deste Salmo ele estava fugindo de Saul, que o procurava com o exército de Israel para tirar-lhe a vida. Ele estava na caverna de Adulão, onde se juntaram a ele seus pais, seus irmãos e todos os homens que se achavam em aperto, e os endividados e todos os amargurados de espírito – cerca de quatrocentos homens  (I Sm 22.1,2).

“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e o abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” (Is 57;15). O Senhor habita no terceiro céu, mas habita também nos corações dos contritos e abatidos de espírito na terra, que se humilham perante Ele e o buscam. Isto não renova a tua esperança em meio aos teus sofrimentos e problemas? O Altíssimo vem ao teu encontro para te dar livramento. Davi  começa muitos Salmos com lágrimas mas os termina com louvor e alegria, isto porque Deus nos visita no meio da nossa tribulação, no meio do nosso clamor angustiado, e nos livra dando-nos um cântico de vitória e de alegria.
Davi orou quando estava na caverna.
Deus ouvirá a oração que for feita na terra, no mar e até no  fundo do mar. Ele não é somente Deus das montanhas, mas também dos vales. O trono de graça do Senhor sempre está acessível aos que o buscam com um coração sincero e contrito.
As melhores orações são feitas nas cavernas da aflição porque vêm do profundo do nosso coração. Se alguém esta noite encontra-se em posição em que sua alma esteja angustiada, e sentindo nuvens a cercar o seu coração, este é um momento especial para comunhão e intercessão que prevaleça, para provar a fidelidade de Deus à sua promessa de estar junto do abatido e contrito de coração.
O Salmo 142 começa com Davi dizendo que pediria misericórdia a Deus com sua voz.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O primeiro está na acomodação ao mal. Na nossa descrença pensando que Deus não está interessado em fortalecer o nosso coração e alegrar a nossa alma. Com isto, não clamamos por socorro como fez Davi. Não oramos. Não confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor. E tocarmos a vida com o coração atribulado julgando que somos mais fortes do que qualquer problema. Davi não tinha vergonha de assumir e reconhecer que há situações que o nosso inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que for, é mais forte do que nós. E não temos outra alternativa senão a de recorrer ao auxílio do Altíssimo, do Todo Poderoso. Há um mistério nisto, que Paulo bem conheceu: quando somos fracos então somos fortes. A graça do Senhor se revela poderosa na nossa fraqueza. O ato de prosseguir tentando parecer ser mais fortes do que as forças que nos oprimem e deprimem, pode fazer com que nós, nesta nossa auto-confiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos, obstinados e frios. O poder não é nosso e nem das forças que nos assolam, mas é exclusivo de Jesus Cristo. Todo o poder Lhe foi dado nos céus e na terra, Ele tem autoridade sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos quando clamamos por socorro.   
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas dúvidas e temores. Se tens de sair do teu estado atual de depressão, corra imediatamente para Deus, como fez Davi. Ele diz nos dois primeiros versículos do Salmo 142:
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor.
2.  Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Se não tens força para clamar com tua voz, ou não há um lugar adequado para tal, clama com o coração, grita com a tua alma, fala com o Senhor em silêncio, mas não deixes de clamar. Contempla somente ao Senhor, porque somente nele há esperança.
Se tens pecado contra Deus, saiba que Ele está disposto a perdoar. Ele pode perdoar completamente a maior das ofensas.  Lembra que Jesus pagou com sua morte o preço exigido para o perdão de todos os nossos pecados.
Basta apenas confessar. Davi confessou que estava com o seu espírito abatido. Mas determinou-se não ocultar nada de Deus. Faça o mesmo. Ele diz nos versos 2 e 3 do nosso Salmo.
2.  Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No  caminho em que ando me ocultam armadilha.
Quando estamos na caverna da aflição não são palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são meras palavras que temos que falar, mas colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal como uma criança devemos dizer ao Senhor todas as nossas angústias, nossas queixas, nossas misérias, temores. Se lhe confessarmos tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande alívio, pois tem prometido libertar do cativeiro a alma que lhe clama por socorro na angústia (Sl 50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na caverna. Deus pode levantar homens para virem em nosso auxílio, mas devemos reconhecer que eles não viriam e não agiriam bem em nosso favor se o Senhor não os dirigisse em tal sentido.
 É importante destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio que era a  caverna de Adulão, e estava em companhia de seus familiares e de quatrocentos homens que haviam feito dele o seu chefe, mas Davi sabia que não há segurança confiável em nada neste mundo. E dispôs-se a buscar o único e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso Deus.
 É preciso reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos 4 e 5:
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
 As tribulações aprisionam a nossa alma, colocam-na no cárcere. Ali perdemos a alegria da salvação, porque a alma é como um pássaro que só canta em liberdade. Os grilhões da maldade, da perseguição do inimigo que busca aprisionar a nossa alma, não podem resistir ao poder de Jesus que quebra todas as cadeias que nos prendem, e nos dá perfeita liberdade. Podemos caminhar livremente em Jesus. E por isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes  do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles agradecem e louvam à pessoa que os libertou. Muito mais nós devemos adorar e louvar a Jesus pela liberdade que Ele nos dá. Devemos glorificar o seu santo nome porque somente ele é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele primeiro a quebra em pedaços.
Deus queria fazer de Jacó, um príncipe, o que fez o Senhor? Saiu numa noite e lutou com ele até raiar o dia. E lhe tocou no nervo da coxa de forma que ficou manco antes de mudar seu nome para   Israel, que significa príncipe de Deus. A luta era para retirar-lhe as próprias forças, e quando estas se esgotaram o chamou de príncipe.
Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde passava o caminho para o trono de Davi? Pela caverna de Adulão. Deveria ir para lá, perseguido por Saul, como um pária, um proscrito, porque esse era o caminho que o levaria a ser o rei que era segundo o coração de Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que cada vez que Deus vai dar-lhes um crescimento, para lhes levar a uma esfera maior de serviço, ou nível mais elevado na vida espiritual, que primeiro vocês são derrubados? Por isso a Palavra diz que devemos ter por motivo de toda a alegria o passar por várias provações. Porque esta é a maneira de Deus trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome antes de dar-nos de comer.  Desnuda-nos antes de vestir-nos. Faz de nós nada, antes de fazer algo de nós.
Por que devemos passar pela caverna como Davi? Primeiro porque para sermos uma pessoa de grande utilidade, Deus precisa antes ensinar-nos a orar. Se chegarmos a ser grandes sem orar, nossa grandeza será nossa ruína. A caverna nos ensina que dependemos inteiramente de Deus e que vão é o socorro do homem e nenhuma é a nossa força.
Há situações na vida em que ficamos totalmente entregues nas mãos de Deus. Dependentes da sua misericórdia e auxílio. Com isso quer nos ensinar a não confiarmos em nós mesmos, em nossa própria força, sabedoria, capacidade.
Mais, acima de tudo isso, o Senhor deseja ser conhecido. Quer que aprendamos que Ele é o nosso melhor amigo. Quer que aprendamos que somente a Ele pertence todo o poder. Quer que aprendamos que Ele é totalmente bondoso, misericordioso, amoroso e fiel.
Por isso Davi disse:
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Na aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a valorizar o sofrimento dos nossos irmãos e compartilhamos com eles as suas lutas, intercedendo por eles e socorrendo-os em suas tribulações.
 Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas coisas, e por isso somos exortados a sermos gratos a Deus por tudo, e a entender que todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da caverna, uma vez cessado o perigo, ou por termos recebido forças para enfrentá-lo, devemos vigiar para não sairmos nos lamentando da experiência que passamos, ao contrário o Senhor quer que o louvemos pelo Seu poderoso livramento, porque os que cantam são os que seguem adiante. Fora com todo o pessimismo e nuvens de tristeza que venham sobre nós, depois que temos sido libertados por Deus. Que se encontrem somente palavras de louvor e gratidão em nossos lábios, e outros se juntarão a nós, para receberem da mesma alegria e unção. Davi agia assim e devemos agir do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.



 

SALMO 65 - Salmo de Davi

Neste salmo Davi declara o perdão de pecados por causa da eleição de Deus. Estes eleitos virão ao Senhor para terem as suas iniquidades perdoadas por Ele. São bem-aventurados porque são escolhidos pelo Senhor para se aproximarem dEle, e para que assistam nos Seus átrios, e ficam satisfeitos com a bondade da casa do Senhor, o Seu santo templo. Estes eleitos de Deus não se encontram apenas em Israel, mas eles vêm do Oriente e do Ocidente, de todos os confins da terra, porque eles veem os sinais do Senhor, e Ele os faz exultar de júbilo. Deus abençoa o Seu povo tornando-o fértil e frutífero, com as chuvas do Espírito, assim como Ele faz com a própria terra regando-a com chuvas e fertilizando-a copiosamente, de modo, que os rebanhos nos campos, e os vales vestidos de espigas, parecem exultar de alegria e cantar diante de Deus e dos homens. Tal é a vida destes eleitos de Deus que também crescem, vicejam e frutificam pelo Seu próprio poder que lhes concede tal graça.


“A ti, ó Deus, confiança e louvor em Sião! E a ti se pagará o voto.  Ó tu que escutas a oração, a ti virão todos os homens,  por causa de suas iniquidades. Se prevalecem as nossas transgressões, tu no-las perdoas. Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa - o teu santo templo. Com tremendos feitos nos respondes em tua justiça, ó Deus, Salvador nosso, esperança de todos os confins da terra e dos mares longínquos;  que por tua força consolidas os montes, cingido de poder;  que aplacas o rugir dos mares, o ruído das suas ondas e o tumulto das gentes. Os que habitam nos confins da terra temem os teus sinais; os que vêm do Oriente e do Ocidente, tu os fazes exultar de júbilo. Tu visitas a terra e a regas; tu a enriqueces copiosamente; os ribeiros de Deus são abundantes de água; preparas o cereal, porque para isso a dispões,  regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas. Tu a amoleces com chuviscos e lhe abençoas a produção. Coroas o ano da tua bondade; as tuas pegadas destilam fartura,  destilam sobre as pastagens do deserto, e de júbilo se revestem os outeiros. Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de espigas; exultam de alegria e cantam.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário